terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Travessia Curaçao - Panamá

Tudo pronto, ou melhor, quase tudo!

Um probleminha no alternador, nada muito complicado, mas ás vezes uma pequena coisa acaba levando mais tempo do que imaginávamos.

Bujão de gás cheio, água no tanque, água nas bambonas de reserva, combustível até a boca, muita comida e finalmente o alternador zero bala. Tudo pronto para zarparmos para o Panamá. Despedidas, festas e aquele aperto no coração, por deixar Curaçao e os amigos e também pela travessia que nos esperava, sabíamos que seria longa.

Deixamos Curaçao num fim de tarde, costeando todas aquelas praias e bares que estivemos , a lua apareceu tão linda, num fim de tarde avermelhado, tudo perfeito. Aproveitei a boa condição de mar para fazer bolos e pães... pic nic na proa.

No dia seguinte a tarde já estávamos passando Aruba, decidimos não parar e seguir adiante.

Sabíamos que dali pra frente podíamos enfrentar mal tempo, muitos amigos velejadores nos alertaram sobre ondas grandes e ventos fortes. Passaríamos por uma ponta elegida pelos cruzeiristas como uma travessia que está entre as cinco mais complicadas.

Estávamos indo muito bem, quando olhamos no horizonte uma nuvem preta, não conseguimos desviar e pegamos nossa primeira frente. A nuvem nos alcançou com rajada de 32 nós, o tempo de ela chegar, passar e de ir embora foi tão rápido e tenso que não podemos descrever muito bem, só lembro que agüentamos o Brava firme para aproar ao vento, adernou muito, dando a sensação que iria virar, foi um susto, mas logo passou.

Seguimos viagem, fomos percebendo que o tempo ia piorando e a ondulação aumentando, já estávamos na altura de Santa Marta, não avistávamos nenhum navio ou embarcação, estávamos no meio de espumas brancas já começando a rezar para o tempo melhorar.

Não melhorava, piorou ainda mais, a ondulação agora era realmente grande, tínhamos que velejar negociando com elas e o vento não dava trégua. Estávamos na dúvida se seria melhor nos proteger em Cartagena, mas a condição de vento e ondas não deixava mudarmos o rumo para a costa. Tínhamos que encarar, avistamos um navio, o Mané fez contato por rádio pedindo a previsão de tempo, ia melhor ainda hoje, então decidimos continuar.

Demorou para melhorar, tivemos que agüentar a situação, estávamos cansados, o Mané mal dormia.

No sexto dia de travessia o tempo melhorou tanto que pegamos uma calmaria, não sabíamos se preferíamos aquela ventania toda ou sem vento nenhum, não sei o que era pior.

E para piorar ainda mais, tivemos um problema na caixa de embreagem, então estávamos sem motor também. Sem vento e sem motor, realmente uma situação para testar o limite de paciência.

A noite o Brava estava praticamente a deriva, ainda bem que estávamos muito longe da terra, só tinha uma coisa a fazer: esperar o vento voltar.

Sétimo dia, conseguimos avistar San Blás, parecia uma miragem, o vento estava fraco, movia o Brava muito lentamente, tudo o que queríamos naquela hora era chegar, chegar naquele paraíso, mas a terra demorava a chegar.

Lembramos de um detalhe, estávamos sem motor, como iríamos ancorar no meio de tanto coral ¿

Decidimos que a única forma seria baixar o dingue, colocar ele ao lado do Brava e rebocar, nosso motor do dingue é de 25 cavalos, força suficiente para levar o Brava que tem 10 toneladas.

Foi realmente muita adrenalina baixar o dingue, colocar o motor exatamente no local certo e amarrar ao lado do Brava, tinha ondas e quase tudo foi pra água, foi realmente um dos momentos mais tensos e difíceis. Quando vimos tudo deu certo, o Brava tava sendo rebocado pelo dingue, não acreditávamos naquilo, uma situação bizarra, depois de tudo o que passamos nesta travessia, mais essa pra finalizar.

O sol estava baixando rápido, precisávamos de luz para ancorarmos seguros dentro de Holand Cays, uma ancoragem entre ilhas e corais, uma paisagem surreal de tão linda, ilhas de areias branca e coqueiros que se inclinavam para o mar azul cristalino.

Parecia mentira, conseguimos chegar, no último raio de sol, estávamos cansados, mas aquela visão fez tudo valer a pena.

Mergulhei é claro, já era noite. Fizemos uma janta de verdade, assistimos um filme e capotamos feito anjos.

Obrigado Meu Deus !


2 comentários:

Anônimo disse...

Fantásticas as aventuras de vocês.
Já estamos ligados novamente.
Fomos para o Google Earth ver os locais citados e as distâncias e ficamos impressionados.
Continuem nos brindando com esses relatos.
Grande abraço e boas velejadas.

Maurício e Clarice Berka

rafaela disse...

Obrigada Maurício e Clarice por nos incentivarem sempre ! Beijos, Rafa e Mané.