domingo, 9 de maio de 2010

Diario de Bordo da travessia entre Fort Lauderdale e Bermuda

Este Diário foi escrito de uma maneira resumida para vocês entenderem um pouco como é nosso dia-dia no oceano.

02/maio/2010 – Deixamos a marina Play Boy em Fort Lauderdale às 10 h, tudo estava funcionando perfeitamente, já era hora de zarpar. Abastecemos com diesel numa marina ao lado e começamos a descer os canais que ligam a cidade com o mar. Os canais eram perfeitas avenidas, onde passavam navios de containers, navios de cruzeiros, navios da marinha, lanchas de pesca, e veleiros. O sol estava brilhando, colocamos música para animar a partida e para nossa surpresa apareceram golfinhos à nossa proa, melhor assim, os golfinhos são nossa companhia no mar.
Começamos a içar vela, eu no timão e Mané e Cameron na vela grande, iniciamos nossa saída do canal e as ondas do marzão já eram grandes, vento moderado de SO.
Durante toda a tarde foi tempo para relaxar e curtir, chegando a noite o Cameron preparou uma pasta ao pesto.
Iniciei meu turno às 20:30h, vento brando, céu estralado e um navio no horizonte. Já estávamos aos arredores dos arrecifes de Bahamas, que é composta por inúmeras ilhas e entre elas bancadas rasas de areia e coral. Mantínhamos, por segurança, umas 5 milhas da grande bancada, pensei comigo o que fazia um navio ali em lugares supostamente rasos para um navio, na verdade estávamos numa esquina...é...mar também tem esquina!
Monitorando o navio no radar percebi que ele vinha na nossa rota, acordei o Mané para ele me ajudar a safarmos. Safos, fiquei monitoando o quanto de distância mantínhamos dos arrecifes, o vento era SO, e quando virou mais pra Sul, aproveitei para ganhar ângulo e tentar contornar a bancada rasa. Faltava mais 10 horas pra chegarmos em nosso destino: Walkers Cay em Bahamas.
Entreguei meu turno para o Mané às 00:30h, a condição da velejada estava perfeita e fui dormir na cama de proa.



03/maio/2010 – Acordei 7h e com o vento mais forte em torno de 20 nós, já estávamos chegando em Walkers Cay. Eu e Mané fomos cada um para uma borda do veleiro ajudar na visualização das possíveis pedras que poderiam atingir o veleiro, e procurando caminhos mais fundos em meio a bancadas rasas de areia e mar azul piscina, chegamos a uma ancoragem que mais parecia uma miragem, de tão maravilhoso que era!
Tinha uma praia a nossa frente, eu e Mane pegamos uma bóia e nadamos até ela, aproveitamos toda tarde naquele paraíso, encontramos jogado na areia um computador e apelidamos aquele lugar de “Bahamas Internet Paradise” .
Já era final de tarde, hora de voltar para o barco, durante a exploração na Ilha Perdida, tinha feito um corte na parte inferior do dedo do meu pé, pensei que nadando durante a volta, algum tubarão pudesse sentir o cheiro do meu sangue, foi engraçado...eu e Mané nadando bem rapidinho de olhos na superfície da água pra ver se nenhuma barbatana de tubarão viesse a nossa direção. Ufa! Salvos...chegamos no veleiro e o Cameron estava intretido com o Water Maker, que é um sistema de filtro que transforma a água salgada do mar em água potável. O Water Maker não estava funcionando 100% e ficamos um pouco preocupados, pois para uma travessia longa, seria um componente importante para o nosso reabastecimento de água.
Fizemos uma janta Mexicana, limpei meu machucado, e fomos dormir.




04/maio/2010 – Acordamos naquele paraíso, tomamos café no deck e depois de curtir um pouco o visual, o Mané e o Cameron foram trabalhar no Water Maker, depois de 2 horas já estava funcionando, mas ainda precisara checá-lo melhor em Bermudas. Vimos a previsão de tempo e teria uma janela de bom tempo para navegarmos até Bermuda, nos levaria uns 5 dias velejando, então decidimos zarpar hoje mesmo, fiz uma limpeza na cozinha, organizamos tudo para nossa partida. Deixamos Bahamas às 14:00h, novamente a saída dos arrecifes foi um pouco tensa, a cada segundo sempre de olho no ecobatímetro, que nos dá a profundidade, e aos poucos íamos deixando mais um paraíso, o sol estava intenso, calor e vento de través em torno de 14 NÓS, mar liso e proa em direção a Bermuda, 57º no piloto automático.
Durante toda a tarde foi tranqüila, lemos livros, dormimos e batemos papo. Iniciei meu turno como sempre 20:30h, noite estrelada, vento constante SO e navio a meu bombordo em direção a nossa proa, orçei afim de safar o navio, o vento aumentou para 17 NÓS e andávamos a 9 NÓS com a corrente a nosso favor.
Entreguei meu turno para o Mané às 00:30h e fui dormir na proa.


05/maio/2010 – Estávamos dormindo tranquilamente eu Mané, quando Cameron, que estava eu seu turno, nos chamou às 7h. Um Mahi Mahi (o nosso Dourado no brasil) tinha fisgado a isca do molinete, corremos até o deck pra garantir o rango. O peixe era incrivelmente grande e lindo, a pescaria foi um sucesso, agora teríamos que comê-lo primeiramente antes de jogar novamente isca na água. Sushi, ou muqueca ou simplesmente amanteigado com alcaparras seria nosso cardápio por alguns dias!!!
Vento brando e constante, completamos as primeiras 24 horas velejando percorrendo uma distância de 175 milhas, nossa distância entre Bahamas e Bermuda eram 780 milhas.
Tomei banho e fui para o deck pegar sol, comendo uma maça bem gelada, nestas horas eu percebia que velejar torna as pequenas coisas em grandes prazeres, como por exemplo curtir o sol no deck comendo uma maçã bem gelada.
Para o almoço Mané preparou uma muqueca de Mahi Mahi deliciosa, dormi um pouco depois de comer e acordei quando o vento diminuiu para 8 NÓS. Ligamos o motor e ficamos no deck conversando, fazendo e planos futuros, vimos um golfinho pulando na nossa proa!
O mar estava tranquilo, resolvemos assistir um filme, o Batman, as caixas do home theather bombavam com os efeitos sonoros do filme, o barco todo vibrava, cheguei até a pensar que a barulheira poderia acordar os peixes, ou os misteriosos animais marinhos que habitam as profundezas do oceano...como a nossa mente pode ser tão lúcida e tão criativa ao mesmo tempo!
Iniciei meu turno às 21h, o vento era constante e a noite estava absurdamente escura, sem estrelas, não se via um palmo a frente , nem navios apareceram, nem aviões. De repente o vento virou drasticamente, as velas começaram a bater, corri para o leme e o Mané e o Cameron que ouviram as velas batendo, já estavam de pé ao meu lado. Não tinha sido o vento que mudara e sim o barco que rodopiou, sem nenhuma explicação, a não ser a explicação de que o piloto automático ficara maluco durante um segundo. Com tudo sobre controle, continuei meu turno e as estrelas apareceram...ufa, agora eu tinha companhia.



06/maio/2010 – Acordei 7h, vento calmo, mar liso e céu com um pouco de nuvens. Preparei banana frita com torradas e café com leite, o Mané acordou em seguida, acho que foi com o cheiro da banana fritando!
Ficamos conversando e curtindo a velejada, lemos livros (Vendedor de Sonhos, muito bom este livro).
O Cameron acordou e começamos a conversar, o assunto era o alto índice de natalidade no mundo, tudo começou porque ele estava lendo um livro de defendia a idéia que os seres humanos tem que parar de ter filhos e resolveu nos ler um trecho, então começou a debater a questão, o debate foi polêmico, cada um com suas idéias, terminamos a conversa com um Mahi Mahi no forno e rindo bastante.
A condição de conforto dentro do barco estava perfeita. Vento SO em torno de 15 NÓS e mar liso. Assistimos uns 3 filmes e iniciei meu turno que foi bem tranqüilo e com a visita de 3 navios que passaram bem longe da nossa rota.

07/maio/2010 – Acordamos juntos eu e Mané às 7h, ele já estava se acostumando com o horário do seu turno, que era o mais complicado pois era o horário do meio, suas horas de sono eram picadas. O meu era o melhor, podia dormir durante 7 horas direto.
O vento diminuiu de intensidade mas o sol continuava brilhando, recebemos a visita de um passarinho que parecia estar exausto de tanto voar pelo mar, pousou no nosso deck e ficou horas descansando. Fui no deck da proa curtir o vento e vi uma tartaruga.
O almoço foi macarronada, o vento continuava fraco, então decidimos colocar a vela balão pra tentar ganhar mais velocidade. A idéia era chegar domingo de manhã, pois a previsão dizia que uma frente fria do norte estava chegando. Colocamos a balão que é uma terceira opção de vela usada somente quando o vento vem da popa e que ajuda o barco a andar mais rápido. O vento tinha mudado de direção, mais ainda continuava fraco. Não adiantou muito então voltamos a ligar o motor.
Velejar também é um exercício de paciência e de “aquietação” da mente. Não fazer nada é um processo físico e mental que treina o nosso autocontrole. Uma prática difícil nos atuais mundos modernos. Estávamos aqui também treinando a nossa paciência e o nosso autocontrole!
Iniciei meu turno que foi sem dúvida o mais tranqüilo, a noite estava clara e o mar um azeite.

08/maio/2010 – Sábado! Acordamos já na contagem regressiva, a previsão era chegar domingo pela manhã. Fiz uma feijoada daquelas, e passamos praticamente a tarde lendo livros e estudando a entrada na baía de Bermuda.
Iniciei meu turno, o vento tinha aumentado um pouco, desligamos o motor e botamos vela tentando ganhar velocidade.
O Mané ficou comigo em meu turno, ele estava sem sono. Terminei meu turno e não consegui mais dormir, acho que era a ansiedade de chegar, fiquei na cama rolando esperando o dia clarear.


09/maio de 2010 - Eram 5h da manhã acordei fui direto para o deck e vi a ilha. Uau ! Como é bom chegar!...deu tudo certo, estamos aqui, em uma ilha muito distante no meio do oceano Atlântico.
Nos comunicamos por rádio com a alfândega que nos orientou como entrar na ilha. Fomos seguindo em direção a um canal que entrava no meio da cidade em uma grande baía cheia de outros veleiros ancorados, em torno da baía, casinhas coloridas com telhados brancos, um charme...água azul clarinha, um mundo totalmente novo para nós.
Fizemos a entrada no país, ancoramos em um local seguro e fomos conhecer Bermuda. Uma ilha de colonização inglesa, com arquitetura típica, bem estruturada e cheia de turistas. A cidade nos encantava a cada ruela, a cada esquina...




9 comentários:

Eduardo disse...

du caraio!
me parti de rir com a foto da rafa e o monitor hahaha
boa viagem ai pra vcs
abracos
Primo!!!

Anônimo disse...

Que lindos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
a Rafinha na cosinha é muito lindaaaaaaaaaaaaa
sei que tentaram falar comigo ontem e não conseguiram, considero me abraçada, meus filhos e noras são os melhores do mundo!!!!!!
se cuidem e aproveitem
mãe e ninha

Fly disse...

ADOREI o esquema de postar como diário! :D
Eeee! Deu pra acompanhar bem a rotina de vcs!!!!!! Muito legal!
O dia a dia de um veleiro é uma mistura de responsabilidade, paciência, mas ao mesmo tempo muita surpresa!

É muito interessante estar em um lugar onde a gente pode se desligar um pouco, mas não consegue! Esse com certeza é um problema da nossa época...

Falando em problema da nossa época, o livro do Cameron seria: A História de B (em inglês deve ser algo parecido...)? Fala exatamente isso e eu concordo plenamente! A gente sabe que quando uma espécie aumenta em número, o ecossistema fica completamente desequilibrado. E nós, humanos, não deixamos de ser uma espécie, com um planeta completamente desquilibrado por causa do nosso crescimento absurdo. Logo, começa a faltar recursos de todo tipo... Coitado do nosso planeta e dos outros seres, por terem que conviver conosco! Minha conclusão: somos o câncer do planeta (já que essa doença nada mais é do que quando uma célula acredita que não tem mais que conviver de acordo com as outras e se multiplica desordenadamente, pegando todos os nutrientes pra si, até matar o organismo do qual é dependente!) ;) Então a única forma de desacelerar isso seria diminuindo o número neh? :D Ó, taí a minha contribuição pra discussão!

LINDAS AS FOTOS!!! Que lugar maravilhoso!
Parabéns pelo peixão turma! Deu água na boca! :D

Tô gostando de ver Rafinha, tens teu próprio turno! Lembro do primeiro texto onde tavas aprendendo! Quanta conquista! :D Hahaha, Mané, até na feijoada a minha prima tá mandando bem? Vou botar na lista então! :D

Vcs são tudo de bom!! É demais acompanhar isso tudo!

Muitas alegrias por aí, sempree!!!
Beijão!!! Saudades!

Nagla disse...

oi rafa,aqui é a Nagla!Belas e maravilhosas aventuras heinn,prabens!
Adorei sua foto com o PC,vale a pena colocar numa revista,é daquelas que ganha premios,porém,é importante saber o nome da praia...
Diga pra mim.Grande beijo ao casal mais porreta que conheço!!!!!!

Rafaela disse...

Flavinhaaaa, adorei a contribuicao para nosso debate, com certeza eh mais uma ideia a somar...realmente a especie humana esta crescendo desordenadamente e isto traz muitos problemas para nossa sobrevivencia e para a sobrevivencia das outras especies...coitadas mesmo.O livro que o Cameron esta lendo eh "ISHMAEL an Adventure of the Mind and Spirit" sao duas pessoas conversando com suas teorias a respeito de varios assuntos.
Eu sabia que vc ia gostar da parte dos livros !!!
Brigadao pelas palavras carinhosas e de grande incentivo!
Beijao pra vc!

Fly disse...

Ah, brigada por responder! Obaa vou atrás do livro aqui, parece ser mto interessante, hahaha, gostei sim!!! :D

Tava vendo as fotos de vcs no orkut, que lugar mais incríveeeeel!!! Vontade de largar tudo e me mudar de novo hahaha!

E parabéns pelas fotos, sempre lindas e bem humoradas!!! :D

Saudades gigantes! :)

Aproveitem tudo por aí!!
Vcs vão "falar" com a gente de novo antes de zarpar? Caso não, desejo UMA VIAGEM MARAVILHOSA!! Com toda a proteção, bons ventos, muitas risadas, peixões e tranquilidade!! :)

Esperamos ansiosos pra saber como é atravessar o Atlântico! :D

Beijão!!!

Fly disse...

Aaaah, fui procurar esse livro na internet e descobri que o autor é o mesmo que escreveu A História de B!! Eeee! Hahaha, bom, tava no caminho mesmo! :D
Diz pro Cameron que o cara é "baita" hahaha!
Já gostei do livro, provavelmente o pai vai gostar tbm, vou ver se tem por aqui! Valeu turma!:D
Beijão pra vcs!!!

Nando disse...

Fala Dupla
Parabens pela otima viagem!!
acabei de fazer o meu blog! muitissimo obrigado pelas dicas!!
da uma olhada lah: http://acoupleofbackpacks.blogspot.com

abcs

Karina e Lucas disse...

Queridos, só posso dizer que ler cada post de vocês nos faz "viajar"! Estou com saudades e esperando-os logo aqui em Portugal pra saber de toooooooodos os detalhes, ok?!! Quando tiverem uma posição "mais exata" sobre quando vão chegar, avisem! Ah, e o local também, certo?! Beijos enormes e boa viagem!!! Ka.