quinta-feira, 28 de maio de 2009

Vídeo 10 - Golfinhos



Mais um filme, este especialmente dedicado ao meu irmão Matheus e à Belinha.
O filme é de um casal de Golfinhos que nos acompanhou.
Sem música, só o barulho do vento...
Abraço a todos.
Mané

A Fábula



Aproveitando um email que recebemos do nosso amigo Alexandre "Tartaruga", que está trabalhando a bordo de um navio de Sondagens Sísmicas no litoral do Brasil, e pelo que parece está com tempo sobrando, repassamos a vocês uma curiosa fábula.
Abraço
Duplaventura

"Era uma vez, uma formiguinha e uma cigarra muito amigas.
Durante todo o outono, a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o período de inverno.

Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem o bate-papo
com os amigos ao final do trabalho tomando uma cervejinha gelada.
Seu nome era 'Trabalho', e seu sobrenome era 'Sempre'.

Enquanto isso, a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos e
nos bares da cidade; não desperdiçou nem um minuto sequer. Cantou durante todo o outono, dançou, aproveitou o sol, curtiu prá valer sem se preocupar com o inverno
que estava por vir.

Então, passados alguns dias, começou a esfriar.
Era o inverno que estava começando.

A formiguinha, exausta de tanto trabalhar, entrou para a sua singela e aconchegante toca, repleta de comida.
Mas alguém chamava por seu nome, do lado de fora da toca.

Quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o que viu.
Sua amiga cigarra estava dentro de uma Ferrari amarela com um aconchegante casaco de vison.

E a cigarra disse para a formiguinha:

- Olá, amiga, vou passar o inverno em Paris. Será que você poderia cuidar da minha toca?
E a formiguinha respondeu:
- Claro, sem problemas! Mas o que lhe aconteceu? Como você conseguiu dinheiro para ir à Paris e comprar esta Ferrari?

E a cigarra respondeu:
Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um produtor gostou da minha voz.
Fechei um contrato de seis meses para fazer show em Paris...
À propósito, a amiga deseja alguma coisa de lá?

- Desejo sim, respondeu a formiguinha.
Se você encontrar o La Fontaine (Autor da Fábula Original) por lá, manda ele ir para a 'Puta Que O Pariu!!!'

Moral da História:

Aproveite sua vida, saiba dosar trabalho e lazer,
pois trabalho em demasia só traz benefício em
fábulas do La Fontaine e ao seu patrão.

Trabalhe, mas curta a sua vida.
Ela é única!!!

Se você não encontrar a sua metade da laranja, não desanime, procure sua metade do limão, adicione açúcar, pinga e gelo, e...

Seja feliz!"

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Duplaventura no Surf4ever

Sempre falamos que nosso amigo Gustavo, do Blog Surf4ever tem nos ajudado muito no nosso Blog.
Meu amigo de infância, irmão de longa data, que eu ajudei a se manter surfando quando lhe vendi uma prancha 6´8" mágica, colocou um post no seu blog sobre a nossa aventura.
Convido mais uma vez a todos os que acompanham nosso Blog a visitar o do Gustavo, que sempre tem muita informação bacana, não só sobre o Surf, mas sobre a vida.... e agora sobre nossa aventura.
Abraços a todos.
Valeu Gustavo!!!
ACESSEM www.surf4ever.com.br
Mané

Estamos em Golfito


Olá pessoal!

Estamos em Golfito, no extremo sul da Costa Rica, chegamos hoje pela manha, depois de passar o final de semana surfando em Pavones e conhecendo o Cabo Matapalo.
Estamos nos últimos preparativos para sair da Costa Rica e chegar no Panamá.
Ficaremos por aqui uns 3 dias, para acertar alguns problemas mecânicos e fazer os trâmites para a nossa entrada em mais um país, nossa próxima vítima será o Panamá.
Sabemos que estamos bem atrasados com nosso Blog, mas teremos a oportunidade de atualizá-lo aqui, pois temos um bom acesso à Internet.
Ontem vivemos mais uma grande aventura, eu e a Rafinha, quando fomos conhecer o Cabo Matapalo e a maravilhosa natureza ali presente.
Incluiu 3 horas de caminhada em uma das mais diversas florestas do mundo, com Capivaras, cobras, aranhas, macacos, flores, árvores centenárias, uma entrada de bicão em um hotel de luxo, algumas das praias mais lindas que já visitamos na nossa vida, duas caronas e muito mais... Vamos escrever sobre este maravilhoso dia...
Obrigado por estarem acompanhando nossa viagem.
Fiquem atentos que temos muitas novidades para contar.
Abraço
Mané e Rafinha

quarta-feira, 20 de maio de 2009

No sul da Costa Rica


Olá pessoal

Estamos zarpando agora de Puntarenas, com destino a Golfito, cerca de 180 milhas náuticas, para aproveitar o swell que vai chegar por lá dia 21, surfando em Pavones e Matapalo.
De lá vamos atualizar tudo o que rolou na Costa Rica.
Obrigado por acompanharem a nossa viagem.
Duplaventura

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vídeo 9 - El Salvador a Nicarágua - por Rafinha



Segue mais um filme editado pela Rafinha... te cuida Spilberg!
Esperamos que gostem
Abraço da Duplaventura

P.S - Valeu por colocar o vídeo direto aqui no blog meu amigo Gustavoooo.... www.surf4ever.com.br!

De El Salvador a Nicarágua, mais boas ondas... Por Mané








Tentando correr atrás do leite derramado, vou contar um pouco do que aconteceu depois que saímos de El Salvador e seguimos até a Nicarágua.
Ainda na Marina Barrillas entramos em um embate, eu e o Cameron, que divertiu bastante a Rafinha. Ele queria apenas cruzar o golfo que fica entre El Salvador, Honduras e Nicarágua, e colocar o barco em uma marina no norte da Nicarágua para surfar uma onda que fica logo em frente à Marina e eu queria ir para o sul, surfar a região de San Juan del Sur. Ele tinha como argumento um email que ele recebeu da sua amiga Liz Clark, do veleiro Swell (confira os relatos desta brava velejadora em www.wetsand.com na coluna do Swell), que fez toda a costa da Centroamérica atrás de bons surfspots e lhe garantiu que o melhor lugar para surfar na Nica era bem em frenta à Marina Puesta del Sol, no norte e eu tinha como argumento os boletins fornecidos pelo Raxide, meu vizinho de porta que tem algumas temporadas na Nica, sempre surfando no sul. Cada um argumentava e contrargumentava como podia, a Rafinha só ria, a decisão veio pela internet. A previsão dizia que o swell entraria no sul da Nicarágua e o site da Marina Puesta del Sol dizia que a diária era de 60 dólares.
A velejada entre Barrillas e San Juan del Sur (cerca de 220 milhas náuticas em dois dias) foi bem tranquila, e fomos muito bem recebidos pelos oficiais da Capitania dos Portos e pelo pessoal da Imigração. No dia da chegada aproveitamos para curtir a Praia de San Juan del Sur, a Rafinha tomando um banho de sol e eu e o Cameron fazendo um campeonato de Jacaré.
Na minha saideira, ao caminhar na beira pisei em cima de uma Arraia, que não pensou duas vezes e me acertou o ferrão. Era uma StingRay, comum por aqui, latejou bastante o calcanhar mas não foi nada mais sério. Minha primeira ferroada de Arraia.
Só para manter o astral em alta atacamos uma sessão de Lagostas na janta, primeira vez que a Rafinha provou esta iguaria.
No dia seguinte velejamos 12 MN para norte, para a Praia de Manzanillo, aonde encontramos uma esquerda cinemátográfica quebrando bem próxima às pedras, longa, perfeita, com um metrão servido na série, já com 9 pessoas surfando.
A rafinha ficou no barco, ancorado no meio da praia e eu e o Cameron fomos remando nas nossas pranchas até o pico, aonde surfamos excelentes ondas por quase 3 horas.
Nossa alegria foi quando o crownd fo embora em duas pangas alugadas e ficamos por uns 40 minutos desfrutando daquela maravilha com exclusividade.
Depois, seguimos mais 4 milhas ao norte, ancoramos após a Punta Pié de Gigante para uma noite de descanso merecido, já sabendo que ali do ladinho, a menos de 1 km ficavam mais duas ondas, Colorado e Panga Drops.
Na manhã seguinte nem pensamos duas vezes, fomos bem cedo de dingue conferir o surf enquanto a Rafinha ainda dormia. Fomos primeiro para PangaDrops, aonde parecia estar bem maior. Esta onda quebra em uma laje, a quase 1 km da praia, uma onda de pico abrindo para os dois lados. Na verdade é um grande drop e uma onda bem cheia depois, o Cameron me mandou ir provar o Juice. Nem pensei, entrei e rapidinho encontrei uma esquerda bem servida que proporcionou um belo drop, depois como era esperado engordou e deu até para fazer uma graça para o Cameron que estava no canal com o Dingue. Peguei mais uma no inside que fechou em umas pedras perdidas próximo a praia, depois voltei para o dingue para o Cameron também testar a onda. Ele entrou, boiou por uns 10 minutos e saiu indignado, dizendo que era onda para longboard. Dali tocamos para Colorado, que é um beach break de primeira qualidade.
Realmente a qualidade desta onda é fantástica, lembrando muito os tubos de Puerto Escondido em perfeição, mas bem mais leve e tranquilo de surfar.
Durante umas duas horas surfamos ondas com um metro com séries maiores, com tubos excelentes, água verde e vento terral.
Os dois saímos amarradões com mais uma sessão de Surf perfeita, voltamos para o veleiro e seguimos de volta a San Juan del Sur.
Chegamos no fim de tarde e fomos curtir mais um fim de tarde maravilhoso, fazer mais uns contatos pela internet e acabamos ficando até mais tarde do que deveríamos, quando voltamos para o molhe descobrimos qe o serviço de Panga (barco estilo táxi) não funcionava depois das 6 da tarde e tivemos uma boa aventura para voltarmos para o barco, quase tendo que dormir no armazém de entreposto de peixe local.
Dormimos felizes por estamos a bordo e ma manhã seguinte, domingo, data limite para nosso zarpe, seguimos para a Costa Rica, 40 milhas náuticas ao sul.
A Nicarágua realmente vale a pena como destino turístico e surfístico.

Abraços a todos.

Manuel

Alegria do mês para o Mané

Acabamos de chegar no Costa Rica Yacht Club, em Puntarenas, quase no sul da Costa Rica, aonde devemos ficar por uns dias, acertando alguns projetos na lista de coisas a fazer no barco, atualizar o Blog e descansar um pouco (se é possível estar mais descansados do que a vida que estamos levando nos permite) curtindo a piscina do Clube.
Logo ao chegar entrei na internet e descobri que uma família que sempre foi e é um exemplo para mim também está velejando (isto eu já sabia) e, novidade para mim, também criaram um blog.
Para os que acreditam que para velejar aí no Brasil tem que ser milionário, ou para os que não acham possível velejar com criança pequena a bordo, conheçam a história desta casal de amigos nossos, que estão quebrando todas as regras estipuladas pela nossa ignorante sociedade. Visitem o blog deles e vejam a alegria estampada em suas faces, e, ACORDEM e vão viver seus sonhos, não importa quais sejam eles. Antes que seja tarde.
Abraço a todos.
Mané
Endereço do Blog do Mema II
www.veleiromema.blogspot.com
ou cliquem no título deste post

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Vídeo 8 - Puerto a El Salvador, com Thehuantepec



Mais um filminho, este editado pela Rafinha, que está pegando a manha de fazer vídeos bem bacanas. Este ela iniciou em Puerto Escondido e foi até El Salvador, com algumas cenas do Golfo de Thehuantepec.

Era para ir ao ar no dia das mães, mas antes tarde do que nunca!
Esperamos que gostem.
Abraços
Rafinha e Mané

quarta-feira, 13 de maio de 2009

De Huatulco no México a El Salvador - Por Mané


Como faz algum tempo que nao atualizo meus vídeos, e a viagem continua, vou fazer um breve realto do que rolou nos últimos dias.
O último texto meu foi sobre Puerto Escondido e as enormes ondas que encontramos por lá, entao vou continuar a partir de lá.
Saímos no meio da tarde em direcao a Bahias de Huatulco, aonde deveríamos ficar na Marina Chahue, esperando pela janela de tempo que nos permitisse cruzar o Golfo de Thehuantepec, que realmente era a parte mais complicada de nossa viagem. Neste Golfo, que se localiza na parte mais estreita do México, aonde o Oceano Atlantico e o Pacífico estao mais próximos, nosso medo era estar velejando e ser surpreendidos pelos ventos que nascem no Atlantico e chegam no Pacífico com forca assustadora. Este vento por aqui é conhecido por Thehuantepec, e sao inumeros os relatos de veleiros que tiveram suas velas destruídas e em muitos casos a tripulacao teve que abandonar a embarcacao devido a forca dos ventos que formam ondas enormes em direcao ao oceano, que encontram as ondas que vem do oceano para a praia, formando o que chamamos de "mar cruzado", e condicoes horriveis de velejada. (Ventos de 40 nós e ondas de 30 pés sao comuns por aqui).
Nossa velejada foi bem tranquila até Huatulco, tivemos até mesmo que desacelerar para podermos chegar com o sol nascendo neste balneário turístico do sul do México. A entrada na Marina Chahue foi meio nervosa, devido ao grande calado do nosso barco (3,5 metros com a quilha levantada) e a pouca profundidade do canal, diminuida ainda mais pela proximidade da Lua Cheia, mas chegamos bem.
A Marina era bem acolhedora, sem muita frescura, mas bem segura e com vários barcos esperando a janela para poderem seguir rumo ao sul. Quando chegamos já tinham 6 esperando a mais de uma semana.
Chegamos no domingo, ficamos tranquilos na Marina, arrumando o barco, abastecendo água, relaxando e trabalhando na troca da mangueira do silenciador, que nos deu bastante trabalho, mesmo o Veleiro tendo uma espacosa sala de máquinas, com ar condicionado independente.
Já no domingo iniciamos a análise das previsoes e notamos que teríamos um bom swell chegando na terca. Perfeito, teríamos mais um dia para arrumar o veleiro, conhecer as praias locais e na terca poderíamos ir conhecer uma das melhores dieritas do mundo... Barra de La Cruz. Focamos nossos esforcos no barco na segunda, resolvemos tudo e na terca cedinho pegamos um táxi para Barra de La Cruz. Foram 45 minutos de táxi em uma regiao maravilhosa, cheia de baías, belas praias e ilhas paradisiacas.
Quando chegamos em La Cruz, vimos que a previsao nao tinha errado e realmente as perfeitas direitas estavam funcionando.
Ficamos o dia todo pegando altas ondas, realmente perfeitas, na verdade, maravilhosamente perfeitas. O início da onda me lembrou muito o comeco da onda do Lambe Lambe, com as mesmas pedras dificultando a vida dos que nao as conhecem, mas me deixaram bem a vontade, e como resultado, surfei algumas das melhores ondas da minha vida, bem tranquilo no meio das 10 pessoas que dividiam com gente aquela inesquecivel sessao de Surf.
Saímos amarradoes pela qualidade das ondas, pela temperatura da água, pelo visual do pico, comemos um Mac Fish a Mexicana num restaurante local, conferindo aquelas ondas que nao paravam de quebrar, perfeitas, e retornamos para a Marina Chaheu de cabeca feita.
Mas a viagem tinha que continuar.
Fiz um mapeamento das previsoes das duas costas (do Pacifico e do Atlsntico) e constatamos que t´ríamos uma janela de 4 dias para fazer a travessia. Tempo suficiente, já que o Golfo (a parte perigosa) tinha umas 220 milhas, e até nosso proximo destino teríamos uns 4 dias de velejada.
Zarpamos no iniccio da tarde, um pouco tarde, o que nos obrigou a fazer grande parte da travessia do Golfo de Thehuantepec durante a noite, mas como a previsao prometia, nao encontramos vento algum. Sofremos pela falta de vento, nao pelo seu excesso.
A travessia do Golfo foi bem tranquila, poucos navios, poucos barcos de pesca, muitos golfinhos e uma noite bem estrelada.
Na manha seguinte fui acordado com o Cameron berrando que tínhamos passado por cima de uma Long Line (linha de pesca com milhares de metros e milhares de anzóis), abafamos os panos e antes dele mergulhar chegaram os pescadores donos da linha. Foi tranquilo, safamos o barco tranquilamente e ainda ganhamos um Dourado dos pescadores.
Mas este foi o início do nosso pesadelo com as long lines em frente a costa da Guatemala.
Na tarde atropelamos mais duas, com o Cameron tendo que mergulhar para liberar uma. A noite fiz uma bela janta para a turma e quando estavamos iniciando a ceia, ouvimos um barulho diferente, fui conferir e era a bóia de uma long line. Cortamos a linha e notamos que ela estava cheia de peixe. Aamrramos ela no cunbho da popa e fomos jantar para depois tentar recolher algum peixe e tentar retirar aqueles anzois assassinos do mar, e quando acabamos a janta, notamos que tinhamos outra linha presa na nossa quilha. Tantamos retirar a primeira linha depois de cortar e safar o barco da segunda, mas ela estava tao carregada de peixes que nem a catraca elétrica estava dando conta de recolher. Acabamos tendo que cortar e abandonar a long line sem termos recolhido nenhum peixe, mas conseguimos retirar 19 anzóis e mais de 150 metros de linha do mar.
Nosso problema agora era ter que usar o motor com todas aquelas linhas em baixo do barco, com grande possibilidade de alguma se enrroscar no eixo e poder complicar a situacao. Na metade das noite o vento voltou a morrer e tínhamos que continuar a seguir, discutimos as possibilidades e acabamos ligando o motor, em menos de 2 minutos ouvi um barrulho vindo direto do eixo, berrei para o Cameron que cortou o motor na hora, mas o estrago estava feito. Sabíamos que a linha estava enrolada no eixo, no meio do nada, no meio de uma noite sem lua, escuridao total.
Eu sugeri continuarmos na vela, mesmo nos arrastando a menos de 3 nós e cortar a linha pelo nascer do sol, mas o Cameron avistou um grupo de golfinhos perto do barco e resolveu mergulhar, pois sabia que se tinha golfinho por perto teoricamente nao tinha tubarao.
Totalmente ressabiado o valente capitao resolveu mergulhar, baixei um b¿cabo para ele poder se agarrar se fosse necessário, ele mergulhou e rapidamente confirmou que a Long Line estava no eixo, mais outros 2 mergulhos e ele cortou o cabo, tao apavorado que acabou esfaqueando o proprio pulso. Quando estava quase para retornar a Rafinha, tentando ajudar, jogou outro cabo para ele, que levou um cagasso daqueles, e eu outro, pensando que o berro que ele deu de susto pudesse ter sido devido ao ataque de algum peixe maior. Após ele retornart a bordo, rimos bastante do ocorrido, relaxando o nervosismo de todos. O mais incrível foi o show que os golfinhos que estavam por perto deram após voltarmos a nos movimentar, brilhando maravilhosamente na proa do barco, como o relato do Cameron (em ingles) já contou.
Uma cena que jamais seré esquecida, sem dúvioda alguma. Podiámos ver perfeitamente o contorno dos golfinhos brilhando na escuridao, a menos de um metro da proa dp barco, aonde estavamos sentados babando com aquela cena. Este grupo nos acompanhou por quase dois dias.
Na outrsa manha, mais long lines, que felizmente consehuimos desviar e o vento morreu de vez. O mar ficou tao liso quando se pode imaginar, totalmente espelhado, e os golfinhos deram lugar as tartarugas. Milhares, sem exagero, milhares de tartarugas flutuando ao nosso redor. realmente maravilhoso. Já estávamos chegando no sul da Guatemala, e na noite apareceu mais um problema. Tempestades elétricas rodearam o barco, criando mais uma noite de tencao. Parecia que estavamos em uma tempestade de raios, no meio de um campo de futebol, cmo um guarda chuva de metal aberto sobre nossas cabecas. A única diferenca era que o campo era o Oceano Pacífico e o Guarda-Chuva era nosso mastro que mede 30 metros de altura.
O radar ia mostarndo nuvem de tempestade após nuvem de tempestade, e nós tentando desviar de uma após a outra.... 3 horas de tensao para cada um, deixamos o turno mais tranquilo para a Rafinha, mas mesmo assim ninguem dormiu direito com medo de sermos atingidos. Teve momentos que o radar mostrava 360 graus de nuvens de tempestada ao redor do nosso veleiro, e a única opcao era encontrar a mais branda e tentar passar rezando por baixo dela.
No outro dia, mais um dia tranquilo e bem quente, na noite, vimos que as tempestades elétricas poderiam ficar ainda mais intensas, e tivemos momentos ainda mais apavorantes. OCameron fez o primeiro turno, bastante adrenalizado, e ficou amarradao quando fui liberá-lo e iniciar meu turno. No meu, tentei nao ficar muito preocupado, mas nao durou nem 15 minutos esta minha falsa tranquilidade, quando vi um raio azul, lindo, cair bem na frente da proa, a umas 2 milhas, mas bem em frente, deu para sentir o cheiro de metal queimado no ar, clarao gigante, aí foi rezear muito, tentar acertar a direcao no meio das nuvens e ficar quase 4 horas naquele desespero, pois nao queria ver a Rafinha sozinha naquela situacao.
Acabamos chegando em El Salvador, 520 milhas após Huatulco, no ponto de encontro da panga que nos levaria através de canais de mangue até a Marina Barrilllas no início da manha, e nem pensamos duas vezes, entramos para termos um ou dois dias de descanso.
A estadia em El Salvador foi muito prazeirosa, descansamos bastante, relaxamos na piscina, fizemos compras e conhecemos o mercado local, colorido, rústico, pobre e mal cheiroso, que muito me lembrou algumas cenas marcantes que vivi em Marrocos. Realmente uma experiencia marcante em nossas vidas, para aprendermos o quanto fomos abencoados por nascermos aonde nascemos, em familias tao especiais, em uma vida tao especial.
Depois seguimos para a Nicarágua, mas aí já vai ser outro texto, que já estao me esperando.
Desculpem os erros de portugues, escrevi na correria, em um teclado diferente, mas o que importa é o que rolou, e isto esta escrito ai em cima.
Abracos a Todos
Manuel Alves

sábado, 9 de maio de 2009

Vídeo 7 - Puerto Escondido e Barra de la Cruz



Mais uma vez o Youtube vetou a música que tinha escolhido, era um ACDC, ia colocar outra, mas ia ter que editar tudo de novo... Escolhe um som que gosta e aproveite o vídeo.

Abraços a todos os que têm acompanhado nossa viagem....
Já são mais de 1.000 acessos em nosso Blog!!!
Manuel Alves

De Acapulco a El Salvador

Acordamos ainda meio tontos, Denyse e Ryse já tinham ido embora, agora seriam nós três, uma tripulação mais reduzida, mas ainda a mais divertida da América Central!!
Fizemos primeiramente uma lista de coisas a serem feitas para que nossa viagem pudesse continuar, como supermercado, abastecimento de água e diesel, arrumações no barco, lavanderia e internet. Depois da lista ser executada, aproveitamos o último banho de piscina na marina Iate Clube de Acapulco, planejávamos zarpar no dia seguinte, rumo a Puerto Escondido!!!
Deixamos Acapulco anciosos pela chegada em Puerto, dava pra sentir a ansiedade do Mané, era um sonho antigo, surfar uma das melhores ondas do México, senão a melhor.
Ancoramos em Puerto já estava anoitecendo numa baía cheia de barquinhos de pesca, realmente lindo, tivemos sorte da baía estar calma, possibilitando nossa ancoragem segura.
Fomos dormir cedo, pois o dia seguinte prometia muito surf!
Toc tc toc, era o Cameron batendo na porta de nosso quarto...Hey gyus, let’s go surf!
O sol ainda não tinha nascido totalmente, só me lembro de vestir o biquíni, colocar uma roupa e preparar a mochila de tralhas, tudo muito rápido engolimos qualquer coisa, prepararam as pranchas e fomos os três para o dingue. A idéia era eu deixa-los próximo ao point do surf com o dingue, para que eles fossem remando até as ondas.
A ondulação estava grande, para mim estava gigante, parecia que elas iriam quebrar na gente, eram verdadeiros morros de água. Ai meu Santinho!...a sensação era de eu estar dentro de um filme de surf, num daqueles que eles assistem mil e trocentas vezes!!
O Cameron que já havia surfado em Puerto e pela experiência dele, achava que estava muito grande, mas como não víamos as ondas de frente, ficávamos só imaginando.
Entrou na água primeiro o Cameron, depois o Mané...eu não tirava os olhos do Mané e também das ondas que vinham...a cena era linda, sol nascendo a cidade acordando e surfistas já na água, de repente uma série entra, vejo que o Mané pega uma onda, mas demora pra voltar....daí vemos que ele está lá na areia da praia com dois pedaços de prancha na mão, menos mal...foi a prancha que quebrou, não ele.
Na mesma hora fomos ao encontro dele, deixando o dingue na praia, na mesma baía que estava o veleiro, quando o vejo, aquele sorriso no rosto...penso eu: é...ele quebrou a prancha em Puerto Escondido!!!
Depois ele conta pra vocês direitinho como foi a tal onda, numa daquelas descrições fantásticas que ele faz muito bem.
Agora estávamos em terra, aproveitamos para conhecer o pueblo, lindo...uma vila de pescadores com vários restaurantes, e na praia das ondas choupanas na beira da areia...
Eu e Mané pedimos um café da manhã numa das choupanas, ficamos de camarote olhando o Cameron que alugou uma prancha maior para continuar o surf, agora podíamos ver o mar de frente, realmente eu nunca tinha visto aquelas ondas ao vivo e a cores, somente em revistas.
Finalizamos o dia muito bem, dando voltinhas no pueblo, usamos internet e mais uma prancha quebrada, a do Cameron que ele havia alugado!
Saímos de Puerto Escondido felizes, agora iríamos zarpar para a nossa última cidade no México: Huatulco.
Ficamos em Huatulco uns cinco dias numa marina bem tranqüila, esta não tinha tanta estrutura das demais, mas tinha o suficiente para ficarmos muito bem, desta vez ficamos no trapiche, nos possibilitando de ter energia elétrica...então foi aquela mordomia, ar condicionado, filminhos na TV e bolos de banana no forno, até um pão saiu!
Huatulco fica próxima de uma das praias mais famosas pelo surf: Barra de La Cruz, e é claro pegamos um táxi e fomos passar o dia lá. Sorte que o Mané tinha planejado de trazer duas pranchas então tudo o que ele não surfou em Puerto, ele surfou em Barra de La Cruz, era uma onda atrás da outra, uma melhor que a outra, ficou horas na água e eu horas na praia às vezes em cima de uma pedra para ter o melhor ângulo para as fotos.
Comemos um X peixe no único restaurante que tinha na praia, uma delícia, não sei se era fome mas este X peixe estava tudo de bom.
O restante de nossos dias em Huatulco se resumiu na preparação dos documentos para a saída do país e na preparação do barco, já que íamos fazer uma travessia longa, cinco dias velejando sem parada, direto para El Salvador, passando pelo temido golfo de Tehuantepec e pela costa da Guatemala.
Tudo pronto! Barco em ordem e previsão do tempo vista e revista mil e quinhentas vezes, zarpamos para El Salvador!
Passamos pelo golfo de Tehuantepec tranquilamente, como dizia a previsão do tempo: vento fraco e constante, dividimos os turnos e eu fiquei com o primeiro horário. Meus olhos se revezavam, um pouco no medidor da intensidade de vento, pois qualquer mudança eu tinha que chamar o capitão, um pouco no horizonte, cuidando de possíveis navios e um pouco nas nuvens que sismavam em carregar relâmpagos. Não dava tempo de se sentir sozinha, tinha bastante tarefa e quando menos esperava apareciam os golfinhos.
Na costa da Guatemala as inúmeras linhas de pesca apareciam constantemente para quebrar nossa rotina, assim que passávamos por cima delas, tínhamos que parar o barco e o Cameron tinha que mergulhar para desenrolar ela do hélice, aconteceu isto uma vez durante a noite, foi adrenalizante, dava pra ver que ele estava com medo, imagina mergulhar a noite embaixo do barco com máscara, lanterna e faca! Eu dei um susto nele quando joguei uma corda para ele se segurar, a corda caiu em cima dele, e ele deu um grito...eu ria sem parar de nervosa, a intenção foi boa, mas eu não precisava ter jogado em cima dele né, podia ser do lado. Depois ríamos todos juntos...ele contou este fato no texto que escreveu para o blog.
Além deste acontecimento, outros foram marcantes nestes cinco dias velejando, em uma tarde escaldante de 40 graus decidimos parar o veleiro e tomar um banho de mar...quer dizer...de alto mar...uma delícia, a cor azul era um azul diferente...lindo, talvez por causa da profundidade, uns 200 metros, outro foi as milhões de tartarugas que víamos a toda hora, incrível!
É preciso um certo auto controle quando se está muito tempo no mar, estar no mar acima de tudo é um auto conhecimento, eu tinha que manter minha mente com pensamentos positivos, tinha que ser útil para tripulação, afinal somos um time, tinha que estar atenta para aprender, tinha que evitar erros durante o meu turno, pois naquele momento o barco estava sob minha responsabilidade, tinha que entender tudo o que estava se passando, tinha que ajudar a manter um relacionamento saudável entre a tripulação, tinha que manter a calma se acontecesse algo assustador, tinha que passar protetor solar toda hora e claro meus cremes hidratantes e se alimentar bem.
Chegamos em El Salvador por um canal de mangue que se liga ao mar, a marina estava dentro do mangue e para chegarmos até ela tínhamos que ser guiados por uma panga (barco pequeno) que nos mostraria o caminho, pois o rio era cheio de canais de mangue, como se fosse um labirinto, muito diferente e maravilhoso, parecia Pantanal ou Amazônia, algo assim...eu nem conseguia imaginar como era El Salvador, mas começava bem...bem diferente de tudo o que já havíamos passado.
Ancoramos no canal estreito do mangue na marina Barrillas, a vegetação em volta era densa, dava para ouvir passarinhos e com certeza iríamos ver jacarés, fizemos a entrada no país e depois é claro seguimos para um merecedor banho de piscina na marina, ganhamos de cortesia doses de margueritas...o clima começou a voltar ser de festa!
Fizemos amizade com outros velejadores que estavam a semanas e meses ali, no dia seguinte pegamos uma van e fomos conhecer a cidade. Daí sim eu pude conhecer um pouco de El Salvador um país pobre ao mesmo tempo rico na exuberâncias de frutas, verduras e especiarias, as barraquinhas nas ruas enfileiradas uma do lado da outra, as vezes uma por cima da outra vendiam de tudo, como carangueijo vivo, peixes secos, carnes a céu aberto, temperos, frutas, verduras, camarão, pintos tingidos...de tudo o que se pode imaginar, eu tentava me manter atenta as informações visuais mas de vez em quando eu tinha que cuidar para não meter o pé em poças de água suja, as senhoras usavam um vestido típico do país, um lenço em volta do rosto, a maioria parecia ter mais de cinqüenta anos, elas gritavam coisas que eu não entendia, eu estava novamente dentro de uma cena de filme.
Foi chocante, depois eu Mané conversando, chegamos a conclusão que este povo era feliz, pois eles não conheciam o luxo, aquela era a vida real, talvez eles não se sentissem menos ricos.
Aproveitamos para dormir mais uma noite tranqüila na marina, não precisávamos fazer turno, a programação era de zarpar para Nicarágua no dia seguinte, e assim foi.

by Rafaela Brogni

Puerto Escondido


Após a saída do Casal Rhyse e Denise, ficamos apenas a Rafinha, o Cameron e eu para darmos a continuidade na missão de levar este belo veleiro até o Panamá.
Nos demos conta do tamanho do trabalho que teremos pela frente em um dia de ressaca, em que todos acordamos com bastante sede e vontade de permanecer na cama, mas sabíamos que tínhamos que seguir viagem. Lentamente organizamos tudo a bordo, fomos a terra mais uma vez, desta vez para fazer mais compras, reforçar nossas provisões já que Acapulco era a última cidade grande que passaríamos no México, também aproveitamos para trocar algum dinheiro.
Daqui para frente a tendência é ficarmos mais a bordo, menos em terra, o que provavelmente ajudará a mantermos nossas economias, pois evitaremos restaurantes, passeios e outros pequenos luxos que até agora estávamos nos permitindo viver. Aproveitamos o período de Lua de Mel do casal da Nova Zelândia para fazermos uma segunda Lua de Mel eu e a Rafinha, já que a primeira tinha sido mais humilde, porém não menos especial, em que curtimos uma semana em Garopaba.
Mesmo assim não estávamos muito fora de nossas previsões, mas como pretendemos ficar muito tempo ainda na estrada (ou no mar), precisamos controlar nossos gastos. O ideal é apenas ter bom senso nos gastos, e manter o que estamos fazendo, gastando aonde precisa e merece.
Fizemos um bom rancho, de quase 300 dólares, que deverá durar quase até o Panamá, ou seja, quase 2 meses para nós 3 comermos e bebermos com alguns toques de requinte, com grande variedade, com alimentos específicos e de preparo rápido para os dias em que estaremos fazendo as travessias mais longas, bastante suco para aguentar o inclemente calor, algumas garrafas de vinho e alguns produtos de gosto pessoal, como um pote gigante de Nutela para a Rafinha, Salsa picante e Nachos para o Cameron e queijo e Coca Cola para mim. Cada um terá seu seu vício saciado.
Levamos algum tempo para organizar toda a comida a bordo, tentando manter alguma lógica na sua distribuição, e no meio da tarde levantamos âncora em meio a uma baía agitada por uma forte ondulação que havia chegado na costa mexicana no meio da noite.
Nossa próxima etapa seria de aproximadamente 180 milhas náuticas, seguindo rumo 110*, sempre próximo a costa , com destino a uma das praias mais conhecidas pelos surfistas de todo o mundo, Puerto Escondido, uma praia de fundo de areia perfeito que produz ondas maravilhosamente tubulares, muitas vezes comparadas com Pipeline no Havaí, e que sempre foi meu sonho poder conhecer e surfar.
O Cameron já havia estado lá a quase 15 anos atrás, por cerca de um mês, quando desceu desde a Califórnia até a Costa Rica com uma caminhonete atrás de boas ondas, então já conhecia bem a onda.
Logo na saída, tive a sensação de que o mar estava para peixe, saio da cabine e vejo um belo exemplar saltando do lado do barco, sem mais demora coloco a linha na água e em menos de 5 minutos fisgo um belo peixe, chamado por aqui de Skipjack, muito parecido com um Pampo bombado, de quase 5 quilos, que deu um belo espetáculo saltando após ser fisgado e brigou bastante antes de ser colocado a bordo, com o anzol bem no meio do céu da boca. Com um anzol daquele no céu da minha boca eu também dar pulos de dor. Este peixe é bastante comum pelo Pacífico, um dos mais desejado na Polinésia Francesa, com carne bastante branca, mas por aqui, inexplicavelmente, possui uma carne avermelhada como carne de boi, e quando estava filetando ele soltou bastante sangue, fazendo uma sujeira considerável a bordo, mesmo com o Cameron se esforçando para jogar bastante água com o balde. Filés prontos e embalados, janta garantida, rumo acertado, pouco vento, seguíamos com a genoa aberta e o motor em baixa rotação para ajudar a seguirmos e íamos fazendo 5 a 6 nós, pouco para este lindo barco, mas o suficiente para chegarmos em Puerto Escondido no fim de tarde do outro dia, ainda com luz, para podermos ancorar em segurança.
Vez ou outra os golfinhos apareciam para mais um espetáculo, uma ou outra raia saltava dando cambalhotas mais afastada, e muitos pássaros nos acompanhavam, ajudando a passar o tempo e diminuir a angústia de estar velejando com rumo a Puerto Escondido em meio a algumas verdadeiras montanhas de água que passavam pelo nosso través, nos dando a sensação de quase sermos engolidos pelo mar quando estávamos na cava entre duas ondas maiores.
Mais um fim de tarde lindo, mais uma noite tranquila, com poucos barcos passando ao longe, com os turnos divididos coma a Rafinha no primeiro horário, eu no segundo e o Cameron no terceiro.Cada turno com 3 horas de duração em que cada um ficará sozinho, atento a navios ou barcos de pesca em possível rota de colisão, redes de pesca, correntes que possam estar nos tirando do rumo, mudanças na direção e intensidade do vento, na pressão do óleo, na temperatura do motor, na regulagem das velas, mas sempre sobra tempo para observar as estrelas, a lua, procurar estrelas cadentes e satélites, curtir a bilouminescência que pinta as ondas de verde fosforecente, e mesmo com tudo isto para fazer sempre sobra tempo para pensar na vida, na família, nos amigos e, naturalmente, coisas menos interessantes como extraterrestres e monstros marinhos, que pelo menos na minha mente ainda existem.
A únicas coisas que não se pode fazer no seu período de vigia é dormir pois colocaria a vida de todos os demais em risco, fazer xixi na borda do barco, que colocaria a sua vida em risco, nem assaltar a despensa, mas sempre existe a bordo alguns ratinhos que não respeitam esta proibição.
A manhã chegou e notamos que a ondulação havia diminuído um pouco, mas ainda estava muito bem servida e lentamente fomos nos aproximando de Puerto Escondido, aonde chegamos no fim de tarde. Escoltados por um animado grupo de golfinhos, que nos mostravam o caminho a seguir, fomos nos aproximando do vilarejo mundialmente conhecido, vendo enormes ondas quebrarem a menos de 1 km de onde iríamos ancorar, nos mostravam que a coisa não estava para brincadeira, e eu podia ver nos olhos do Cemeron, havaiano, com 11 temporadas em Teahupo no Tahiti (uma das ondas mais perigosas do mundo), um certo ar de dúvida, não sei o que ele via nos meus, mas sabia que estava realmente no limite da sobrevivência surfar um mar como aquele.
Com certa dificuldade conseguimos encontrar um local seguro para ancorar, tendo como maior dificuldade a profundidade da “baía” da Playa Principal, em média 30 metros. Ancoramos com 25 metros, e usamos quase toda a corrente que o Veleiro possui, para tentar manter uma relação mínima de 4:1, sendo que o ideal numa condição como aquela seria 5:1, mas não teríamos espaço para tanto, mesmo assim sabíamos que seria o suficiente, pois não enfrentaríamos ventos fortes nem as ondas eram um problema devido a grande profundidade. Acabamos o processo de ancoragem quase sem luz natural, mas ainda conseguimos ficar uns 15 minutos observando aquelas verdadeiras montanhas de água se dobrando em enormes tubos em que cabiam um ônibus dentro. Ninguém surfando, realmente estava bem grande, imaginamos como não deveria estar no dia anterior em que estava ainda maior.
Jantamos felizes por ter a certeza que o próximo dia seria realmente especial, eu tentando nem pensar no tamanho daquelas ondas, tentando não lembrar das histórias do Alemão que esteve lá e surfou umas bem grandes e me falou dos surfistas que eram arrastados em baixo da água pelas suas pranchas presas no espumeiro das ondas, dos casos de afogamento, das sinistras descrições que lia nas revistas, e, principalmente tentando esquecer a imagem do Rhyse me falando sobre o instinto suicida do Cameron em ondas grandes, fortes e tubulares…. - Ele (Cameron) não mostra nada de especial em ondas pequenas, mas quando o mar cresce, é até mesmo uma pessoa perigosa para estar perto… Se joga nas maiores, ama tubos insanos, nunca puxa o bico.
Inexplicavelmente consegui dormir bem, sem borboletas no estômago, e acordei amarradão para surfar, como o Cameron batendo na minha porta ainda antes das 7 da manhã. Ainda antes do sol nascer arrumamos o dingue e com o sol nascendo o colocamos na água. Vento terral levantando belas cortinas de água para trás das ondas, cena de filme, podia ver que havia diminuído mas ainda estava bem grande, e também pudemos ver que já haviam alguns destemidos caminhando em direção ao pico.
Rapidamente coloquei as quilhas na minha 6´8”, minha maior prancha, torcendo para ser suficiente, mas sabendo que a maioria ali surfava com pranchas bem maiores, normalmente próximo a 8 pés, para ter bastante remada e conseguir fazer a parte mais complicada da onda que é o Drop vertical, no vazio. Teria que ser suficiente, era a maior que eu tinha, a Rafinha se arrumou e veio junto, e fomos nós 3 a caminho das ondas.
A cada minuto estávamos mais próximos, o sol mais alto iluminando a cena toda, o vento terral penteando as ondas e elas cada vez mais próximas, cada vez maiores. Passamos por um seriado que mesmo tendo a certeza que não quebraria em cima de nós já deu aquele frio na barriga nos 3, e deu para dar a real do que iríamos enfrentar, nesta hora o Cameron olha para mim e fala… - Hoje você vai surfar Pipeline! A textura do mar estava perfeita, a luz mais ainda e seguíamos procurando o melhor lugar para surfar, apenas vendo as ondas por trás, eu sem referência alguma, pois nunca tinha estado ali, o Cameron ia dizendo… -Ali tem o Hotel, ali tem a surfshop…. E eu de olho nas ondas, lindas, gigantes.
A Rafinha estava num misto de fascínio pela beleza da cena e medo pelas ondas. Eu maravilhado com aquilo tudo vendo a perfeição das ondas por trás, querendo entrar, mas com medo do que iria ver de frente, o Cameron na dúvida se sua prancha 6´6” daria conta. Chegamos ao local em que normalmente a rapaziada surfa, ele me falou… - Vai tu antes que eu fico com a Rafinha no dingue, depois trocamos. Eu respondi… - Nem fodendo… vai tu antes que eu tenho que entender melhor este mar…
Ele deu uma pensada, mais uma analisada e se jogou… Fiquei com a Rafinha no dingue vendo a coisa toda, depois de uns 20 minutos ele volta dizendo que havia conseguido pegar uma no rabo, sem tubo e sem dúvida alguma precisava de uma prancha maior. Minha vez… sem pensar muito fiz minha oração. Desta vez sem agradecer tanto quanto tenho o costume e pedindo mais proteção que o padrão. O Cameron me falou que tinha uma certa correnteza e me levou para aonde as maiores estavam quebrando e supostamente a corrente me levaria para o lugar certo.
Pulei no mar e saí remando sem olhar para trás, talvez se tivesse olhado para a segurança do dingue teria voltado, mesmo assim segui em frente chegando perto dos outros surfistas, todos sérios, cada um na sua, silêncio geral, dava para sentir o clima especial no ar, dava para ver que todos sabiam que aquele mar era o limite de Puerto, e o limite da maioria dos presentes, inclusive o meu.
Resolvi não ficar pensando muito, entrou uma entre-série, remei em uma direita, estava quase entrando e vejo um doido despencando, acertando o drop, a onda era dele, não entrei, dei a volta e notei que tinha ficado mais embaixo. Coloquei os braços a remar o mais rápido que pude e vi o dingue passando por uma pirambeira que estava vindo em nossa direção…era a série entrando…Consegui passar pela primeira, na segunda vi que a coisa ia ser complicada, que não conseguiria passar o seriado todo, meio por instinto virei e remei no rabo dela, entrei, acertei o drop, virei na metade da onda, ela armou, jogou o tubo, nada tão grande como as outras que tinha visto no dia anterior, rodou lá na frente, foi ficando escuro e ela fechou na minha cabeça. Fui para o fundo tentando relaxar e a vaca foi mais tranquila do que imaginava… quando saí vi a prancha em dois pedaços, olhei para o fundo e a outra onda vinha rodando por cima de mim, mergulhei não muito fundo tentando ser acertado só pela espuma e não pela coluna de água que ela certamente tinha mandado para as profundezas, deu certo, ela me acertou e me levou mais perto da praia, os dois pedaços da prancha se separaram de vez, peguei a metade presa na cordinha, virei as quilhas para frente e esperei o próximo espumeirão que não demorou a chegar e me levou mais para a praia, depois fui remando até a areia aonde cheguei adrenalizado mas feliz, triste pela prancha que era muito boa, e sabia que ia precisar dela num futuro próximo, mas realmente feliz…. Tinha entrado num dos maiores mares da minha vida, no mais quadrado certamente, surfado meia onda, sentido toda a sua perfeição, todo seu peso, toda sua qualidade, toda sua beleza, e foi uma experiência proveitosa, não traumatizante.
Catei a outra metade na areia, levantei as duas para mostrar ao Cameron e a Rafinha que tinham ficado no dingue que eu estava na areia, que tinha quebrado a prancha e finalmente pude ver de frente aonde eu tinha me metido… Provavelmente se eu tivesse visto de frente antes de entrar não teria entrado… a coisa estava bem maior do que eu imaginava, mas ainda assim no limite da perfeição.
Foi a sessão de Surf mais rápida e mais intensa da minha vida, de mais de 20 anos surfando pelo mundo, e foi o suficiente para saber que um dia vou voltar com mais tempo para aprender a surfar estas maravilhas.
Caminehi até a Playa Principal e encontrei a dupla que havia colocado o dingue em um local seguro, doei as duas metades da minha prancha para um Salva Vidas local e fomos atrás de uma sushop entar alugar alguma prancha maior para podermos voltar a surfar.
Só encontramos uma 7´6”, bem fina e estreita, já quebrada e remendada duas vezes e o Cameron voltou a surfar. O mar vinha baixando rapidamente, ele entrou, pegou duas, saiu, botou uma pilha paa mim voltar, não voltei, ele entrou mais uma vez, pegou mais uma, levou um seriado na cabeça e também quebrou a 7´6” alugada. Prejuízo de 60 dólares na alugada, mais a minha. Mas mais uma vez valeu cada centavo pago. O mar baixou mais ainda, o vento terminou o espetáculo de vez, voltamos a Playa Principal, tomamos uma limonada e uma cerveja, demos uma volta pelo pueblo e voltamos para o veleiro.
Às 2 da tarde já tínhamos levantado âncora com destino às Baías de Huatulco, felizes com a mágica manhã que havíamos vivido.
Para mim, uma manhã muito especial, aonde tive uma das maiores lições de humildade de toda a minha vida.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Novidades


Acabamos de chegar na Nicarágua, após 3 dias velejando desde El Salvador.
Estamos na baía de San Juan del Sur, aproveitando para descansar um pouco antes de seguirmos para a Costa Rica.
Pedimos desculpas pela falta de atualização de textos no blog, mas realmente o nosso tempo fica bastante limitado enquanto estamos velejando, já que somos apenas 3 para tocar este enorme veleiro.
Certamente deveremos fazer todas as atualizações ainda esta semana, máximo na próxima, quando deveremos estar na Costa Rica, com mais tempo e melhores acessos à Internet.
Tudo seguindo perfeitamente, apenas estamos levando mais tempo paa fazer as "pernas" das velejadas pois estamos sempre pegando pouco vento.
Mesmo assim todos os dias temos experiências maravilhosas.
Amanha deveremos estar surfando mais algumas ondas excelentes aqui na Nicarágua (Colorado, Panga Drop e Popoyo), e deveremos zarpar na metade do sábado para a Costa Rica, provavelmente para a Playa de Cocos, que deverá ser nossa base por alguns dias, enquanto estaremos aproveitando para surfar Ollies Point e Roca Bruja.
Abraço a todos por aí.
Manuel e Rafaela.
Obs: Como já devem ter notado, agora também temos textos do Cameron (em inglês), que escreve muito bem e tem muito a compartilhar.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

dolphin karma


Doplphin Karma

Captain’s Log, Star date May 1, 2009. Somewhere off the Guatemala coast:

The days are hot, and the nights are still, as we motor through a sea of turtles, floating on the oily surface. The dolphins have been with for days. So much so that nobody pays attention anymore. We almost wish they would go away, so we could catch some fish! Dolphins are amazing though. We nearly forget that we share the planet with other highly evolved, conscious beings. Consider this:
Dolphins have a larger brain for their body size than humans, and they use nearly 80% of it, whereas humans use only 15-20%. Dolphins have a complex language of sonar clicks and whistles, which they can direct individually at each other when talking, and can even shoot a concentrated beam of sound to stun a fish 30 feet away, then swim up and eat it before it recovers! Dolphins mate for life, and have complex family ties, yet they are completely promiscuous, having sex with anyone and everything- their bellies turn pink when they are horny. Often they will swim up to a boat, and start mating, just to show off: “look what we do, look what we do!” . They are the best swimmers in the ocean, and are constantly shedding a microscopic film from their skin, which reduces drag. They seem to nearly stand still, while rocketing through the water. Dolphins have almost no risk from predators (except humans). Dolphins have the best life-style, they don’t even need to invent cars and computers. Dolphins eat sushi every day. And, of course, dolphins are the original surfers.
Two of the most amazing things I have ever seen involve dolphins. The first was in Kauai, where I worked as a whale watching guide for many years:
The Humpback whales come down to Hawaii each year to mate, and give birth to their young. At this time, 40 ton animals fight it out over the females, jumping, or “breaching” into the air, to land on each other, and to show off. Whale sex is very dramatic.
One day we were miles offshore, with a boatload of tourists from Iowa and Kansas, who had never seen the ocean before, and certainly not a whale. The ocean was “oil-glass”, you could see the clouds reflected in the water, and we seemed to be flying through space. Around us were 3 or 4 groups of whales breaching, mating, and swimming under the boat. The tourists were amazed, and slightly scared. I knew that everything was ok, and was enjoying one of the best whale shows I had ever seen. Then, from around the corner of the island came the dolphins, about 1000 of them. When the dolphins figured out what was going on, that the whales were having sex, all hell broke loose. The dolphins started jumping in the air, spinning, leaping for joy! “Yippee, whale sex!” they seemed to be saying, “WAHOO” !! They swam up to us and started mating, showing their pink bellies. All around us now was the most amazing dolphin show that Sea-World could ever hope to replicate. Dolphins were jumping and doing triple flips in threes and fours, back-flips, triple gainers, little babies jumping, old grandpa dolphins spinning, huge whales breaching all around us, again and again, in every direction, and everybody having sex with everybody… A real aquatic orgy. I couldn’t even move the boat. We were dumbstruck. People were crying, and hugging eachother for joy. It was amazing…
So dolphins have always been some of my very favorite animals. And in Hawaii, we would always take every chance we could get to swim with them. Dolphins get bored with human swimmers though – not fast enough. You can stir up some dolphin interest if you dive down deep though, dolphins like that. They say that dolphins can also read humans using their sonar. They know when a woman is pregnant, or menstruating, and they know what kind of mood you are in. That’s why I was glad to see the dolphins the other night:
Halfway across the Tehuantepec gulf, in the middle of the night, we got a fisherman’s long line wrapped around our propeller. With no wind, we couldn’t sail, so, I had no choice but to jump in and try to clear the line. Scary. I knew there were fish attached to this line, and I thought about the sharks that might be hanging around looking for a free meal. But, the dolphins had been with us for about an hour, so I knew I would be safe. I jumped into the black water with a knife and a underwater flashlight. As I worked to cut away the line, I could hear, and even “feel” the dolphins clicking and whistling, and sounding me out. “What is he doing, this crazy human?” they seemed to be saying. They stayed with us the whole time I was underwater. When I finally got back on board, and got the boat moving again, we were treated to one of the most amazing dolphin spectacles I have ever seen:
It was a dark night, no moon. The phosphorescence was very bright, and the boat left a trail of stars behind it on the calm sea. The dolphins, excited by our movement, raced around like glowing torpedoes in the water. We went to the bow of the boat, to watch as they raced in front of the boat. This is a spectacle I have seen countless times during the day, and even at night before, but this night was special. The water was so clear, and the phosphorescence so bright that you could see the outline of the dolphins almost more clearly than you could in daylight, for there was no glare, no chop on the water, only a perfect halo of light around each one. Like dolphin spirits, or ghosts, racing in front of the boat, leaving spiral trails of light like cosmic smoke trails. This was something straight out of Hollywood special effects, but better, because it was live. Every movement, every flick of the tail, the way they move their noses right before they change directions, even the expressions on their faces, clearly illuminated in heavenly sparks. Down and around they went, off into the distance, just to come racing back at the boat, then dive, then twist, then shoot off again in front, smiling and clicking as they went…
We watched for… hours maybe, Im not sure, completely silent, and thankful. We are living something straight out of a discovery channel special, I swear.
Sometimes sailing can be difficult, sometimes it can be downright scary, but Im just glad that it comes with good Dolphin Karma.

Clavadistas, Corrida de Fuscas e Tequila


Nossa estadia em Acapulco foi certamente a parte mais turística de nossa aventura até agora.
Realmente escolhemos bem o local para viver 3 dias de turistas e um dia de ressaca.
Acapulco é mundialmente reconhecida como um dos principais destinos turísticos do México, mesmo estando atualmente um pouco apagada pelas alternativas caribenhas, Acapulco ainda mantém todas as caraterísticas que a fizeram ser este importante centro turístico mundial.
Sua enorme baía, maior que a de Canasvieiras, com uma entrada mais estreita, garantem sua proteção contra ventos e ondas, e em sua ponta norte foi construída na década de 60 o Clube de Yates de Acapulco, local em que até o Elvis certamente deu umas voltinhas e que seria nosso local de partida para explorarmos esta bela cidade, que muito lembra Balneário Camboriú.
Ancoramos em frente ao Clube de Yates, em mais de 20 metros de profundidade, cercados pelos barcos de festas que abundam por aqui, fazendo a alegria da turistada que se diverte ao som de músicas mexicanas, embalados por doses de Tequila e Margueritas coloridas.
Aproveitamos bem a excelente estrutura do Clube de Yates, principalmente sua piscina, aonde passamos duas tardes muito agradáveis, utilizando a Internet para fazer contato com amigos e com nossa família. Mais uma estrutura super luxuosa, que dificilmente teríamos a oportunidade de usufruir se não estivéssemos velejando. Naturalmente, este luxo não era gratuito, pagávamos U$ 35 por dia para podermos estacionar nosso Dingue nas dependêcias do Clube, e assim podermos usufruir suas comodidades.
Também aproveitamos o setor turístico da cidade, com seus bares em frente ao mar, muito parecidos com algumas regiões da Europa, com shows, garçons poliglotas, coquetéis variados e todos os atrativos necessários para os turistas que normalmente lotam suas ruas. Normalmente, mas não enquanto estávamos ali, especialmente pela queda das bolsas de valores internacionais, que realmente diminuíram o fluxo de turistas americanos, que por aqui são como os argentinos aí em Floripa. Normalmente estávamos sozinhos em enormes bares e restaurantes.
Aproveitamos também para conhecer uma das atividades mexicanas mais reconhecidas internacionalmente. Junto com as Lutas Livres e as novelas mexicanas, os Clavadistas de La Quebrada são a tríade turística do México, algo como o Cristo Redentor, as Cataratas do Iguaçú e a Amazônia são para o Brasil. Apesar da fama desta tríade, perdemos a oportunidade de conferir ao vivo a Lucha Libre na Cidade do México por um dia, não fazíamos questão de conhecer melhor suas telenovelas, mas não iríamos dar o vacilo de estar em Acapulco e não conferir os insanos saltadores de penhascos que atuam em uma fratura em um enorme costão exposto ao mar aberto, saltando de até 35 metros de altura em menos de 4 metros de profundidade, em um local estreito e lavado pelas ondas, merecidamente denominado La Quebrada.
Com este objetivo em mente, colocamos uma roupa mais arrumadinha, nos esprememos (5 mais o taxista) em um Fusquinha, e seguimos para La Quebrada para assistir os saltos do fim de tarde, que prometiam um belo visual com os malucos saltando com o sol se pondo de fundo.
Chegamos um pouco cedo, fizemos um primeiro reconhecimento do local, fiz meus cálculos e escolhi um local estratégico para ter boas fotos, a turma voltou a tomar cerveja e a pegar no meu pé por não beber com eles. A fome bateu, e já que estávamos em La Quebrada, fomos atrás de um boteco em uma quebrada qualquer para forrar o estômago. Incrível como quanto mais na quebrada se localiza o boteco, mais barata e bem servida é a comida, regra internacional.
Passamos o tempo que faltava entre nachos e tortillas, uma Coca Cola para mim e cerveja para os demais, e quando estava chegando a hora voltamos ao penhasco.
Os Clavadistas Professionales de Acapulco atuam desde 1948, quando o primeiro maluco resolveu se jogar no meio dequela quebrada, provavelmente incentivado por algumas doses de Tequila, depois diz a lenda que chamou seus amigos e os turistas começaram a aparecer para assistir. Os Muchachos que eram malucos mas não rasgavam dinheiro, começaram a cobrar, organizaram o grupo, e hoje, mais de 50 anos depois, continuam com a tradição…. de saltar e de cobrar… Pagamos 3 dólares por pessoa, parece pouco, mas lembre-se que de grão em grão a galinha enche o papo, e nos juntamos a umas 150 pessoas para assistir o espetáculo.
Felizmente, o local que eu havia planejado ficar ainda estava vazio, talvez por ser no cantinho, talvez por ter que ficar em cima do muro, com uma das pernas balançando no penhasco, mas fiquei amarradão em saber que teríamos boas fotos.
Com uma pontualidade incomum para países de terceiro mundo, o grupo de Clavadistas surgiu em meio à uma multidão que os saudava entre aplausos e frases de incentivo, desceu o penhasco que nos encontrávamos, entrou na água do estreito canal, de não mais de 5 metros de largura em que iriam saltar para o delírio dos presentes, e iniciou a escalada do paredão que serve como trampolim para seus saltos e para sua fama internacional.
Só a escalada já foi bacana de assistir, apesar de poderem se sustentar em enormes fendas e agarras naturais das pedras, e do paredão ter um ângulo favorável para a escalada, ainda era relativamente alta, com o primeiro platô a 18 metros, o segundo a 25 e o terceiro e último a 35 metros, este último adornado por duas pequenas capelinhas com a Virgem de Guadalupe, a Padroeira dos Clavadistas e de todos os mexicanos.
O grupo formado por 4 Clavadistas seguiu até o topo, saudou a massa, depois se dividiu, três desceram para os 25 metros, e o mais experiente se manteve no topo, enquanto um apreniz se esfroçava para retirar um côco que teimava em flutuar na área de pouso. Área de pouso liberada, sol se pondo, todos devidamente benzidos pela Santa Lupita, hora de começar o espetáculo.
Regulei a máquina para fazer fotos em sequência e pude ver pelo seu visor o primeiro a saltar dos 25 metros. A adrenalina tomou conta de todos os presentes, que certamente prenderam sua respiração ao ver aquele corpo caindo com graciosidade naquele espremido local, bem na hora em que uma onda entrava, aumentando sua profundidade em alguns centímetros.
O segundo Clavadista se preparou e fiz questão de ver diretamente, sem bater fotos, para ter a real noção do que era aquele salto. Naquela hora lembrei do Ricardinho, meu amigo mais psicopata em saltar de pedras de costão, ele realmente iria adorar ver aquilo. Mais um salto perfeito….mais uma sessão de aplausos, mais gritos de incentivo e parabenização.
O terceiro se preparou, também dos 25 metros, eu também me preparei, tentando manter a mão firme apesar do corpo estar com o corpo tremendo de adrenalina, acertei o foco e fui vendo quadro a quadro através do visor da câmera, o Muchacho Clavadista dar um mortal invertido, estilo duplo twist carpado da Daiane dos Santos, aterrizando perfeitamente em pé, exatamente aonde minutos antes o côco teimava em flutuar. A multidão foi ao delírio! Difícil segurar a adrenalina…. Sorriso estampado nas faces de todos os presentes, 3 dólares mais bem gastos da minha vida!
Mas ainda faltava um… O mais experiente… o que iria saltar mais do alto…. O sol criando aquela cor mágica na cena toda…. Ele foi na beira do penhasco, conferiu a área de aterrizagem, gritou alguma coisa para o aprendiz que limpou a área mais uma vez…. Atenção total, nem os Newzelandezes bebiam suas cervejas…. Todos os olhos voltados para aquele homem, certamente com mais de 40 anos, muitos dos quais saltando para aquele estreito canal, em um salto com centímetros separando sucesso e a morte.
Regulei a intensidade de luz da câmera para compensar o sol que se punha, apoiei o braço, acertei o ângulo para as fotos, mas queria ver ao vivo, queria ter aquela imagem na minha retina…. Mais uma benção, mais um sinal da cruz…. Silêncio generalizado… e lá vai ele… na tradicional posição do anjo, braços abertos em formato de cruz, corpo se pronunciando para a frente, desviando do ângulo do penhasco, voando para a frente, caindo no vazio…. Um segundo, dois segundos, três segundos… água… um barulho seco, o silêncio acaba… todos gritam, alguns assobiam, a maioria aplaude… ele ressurge, acena para a multidão enlouquecida… acabou o show, 4 saltos, menos de 20 minutos. A fama vai continuar.
Subimos os degraus que nos levavam a rua extasiados, sorrindo como crianças no circo, acompanhados por um casal da Inglaterra que a turma havia conhecido, no caminho encontramos o grupo de Clavadistas, pausa para fotos com os Muchachos, demos mais uns 2 dólares para a sacolinha dos Clavadistas, encontramos dois táxis, dividimos o grupo e, mesmo com a recomendação dos livros guias que diziam que os turistas não deveriam visitar o centro durante a noite por terem o risco de serem assaltados ou levarem uns tiros, e dos motoristas dos táxis que diziam que comer no centro era convite para sofrermos da vingança de Montezuma (nosso famoso Churrio), seguimos para a praça principal de Acapulco, bem no estilo Praça XV, com Catedral e enormes árvores que muito lembravam a nossa tradicional Figueira.
Escolhemos um restaurante local, com uma agradável sacada no seu segundo andar, enfeitado por fotos em preto e branco da baía antes da urbanização, de onde podíamos ver o show de um “Homem da Cobra” local, que animava os presentes na praça. Imediatamente iniciamos o “esquenta” para a festa de despedida do Casal Rhyse e Denise, que na manhã seguinte voariam para a Nova Zelândia.
Todos queríamos fazer com que a última noite deste grupo de 5 pessoas de diferentes partes do mundo fosse especial, como os demais dias em que estivemos juntos.
Eu estava muito feliz, estava tomando Pina Colada em Acapulco, com um Havaiano, um Newzelandês, uma Eslovena, um Indiano, uma Inglesa, e com minha amada esposa, que se esforçava para falar com todos, evoluindo seu inglês a cada hora.
Cerca de uma hora depois, todos já bem embalados, decidimos seguir para a “balada”, na área turística da cidade, fechamos o valor com dois Fuscas, que mais uma vez fizeram cada centavo valer a pena. Os motoristas entraram no clima e seguiram pela beira-mar acelerando as fucadas ao máximo, fazendo seus motores berrarem alto, abafando seu barulho com músicas locais ao volume máximo em seu interior… Mais adrenalina… Descemos alucinados, o Rhyse chegou a dar 10 dólares de gorjeta para seu motorista, que conseguiu vencer a corrida até o Bar Paradise.
Enquanto acertavam o pagamento dos táxis, me adiantei e descobri que não teríamos que pagar entrada se consumíssemos o equivalente a 25 dólares cada… seria fácil.
O Paradise era uma enorme varanda suspensa sobre a praia de Acapulco, com dançarinas, uma torre de Bungee Jump sobre uma enorme piscina, e naquela noite estava com a famosa promoção da Hora Feliz, pede uma e leva duas….
O Rhyse já chegou mostrando que não estava para brincadeira, encomendou logo 5 doses de tequila (chegaram 10), mais um balde de cerveja, e assim ficou fácil para todos entrarmos no clima e dançarmos bastante.
A música local era a tradicional Cumbia, bastante conhecida pelos frequentadores dos inferninhos de Canasvieiras durante o verão, ritmo só alterado quando fomos perguntados de onde vínhamos e a Rafinha falou - Brasil… aí o Paradise caiu no Samba!
O Indiano não queria ficar para trás do Rhyse e encomendou mais 6 doses (vieram 12), e eu que não bebia Tequila a mais de 10 anos não podia mais negar…. Tinha que entrar no clima com a turma… quando virei a sétima dose parei de contar.
Do nada surgem as garçonetes com dezenas de balões estilo baguete, multicoloridos, e a aposta era quem conseguisse levantar mais alto seu balão iria ganhar um Bungee Jump.
O Cameron se esforçou tanto que acabou ganhando um, mas quando foi saltar descobriu que o salto era grátis, mas teria que pagar o DVD com as imagens, 25 dólares. Negou o pagamento, me ofereceu, eu sabia que se saltasse ia poluir a piscina com tequila, mas ficamos na pilha.
Mais uma rodada de Tequila, mais muitas cervejas, as meninas dançando sem parar, o calor mesmo estando a céu aberto incentivava a beber mais… o Rhyse já falando na rotação 28, ricocheteando pelas paredes como bola de Pinball, eu tendo que aguentar uns mexicanos que queriam debater as escalações da seleção brasileira desde a copa de 1970 e quase nem lembrava mais meu nome, felizmente alguém decide que era hora de irmos. Ainda era cedo, nem eram 2 horas da manhã, mas se ficássemos mais sabíamos que ninguém conseguiria voltar caminhando.
Olho para o Cameron e falo… -Let´s jump in the swimingpool!
A piscina era bem mais embaixo, quando tínhamos chego fui conferir o local em que eles retiravam os que saltavam do Bungee, era uma plataforma perfeita para pular na piscina, mas me lembro de ter um gelo na barriga quando olhei lá embaixo e vi a piscina, mas a plataforma existia para isto… para saltar na piscina, talvez os Clavadistas também se apresentassem ali.
Ele me respondeu que se eu quizesse saltar tinha que ser agora e sem dar alarde, senão o segurança ia embassar.
Eu nem pensei, enfiei a mão nos bolsos, entreguei o conteúdo para o Cameron, passei por baixo de uma corda que isolava a plataforma, levantei a outra que impedia o salto e fui…. Consegui contar 4 pedaladas no ar antes de atingir a água, fui bem fundo mas não encostei no chão…. Adrenalina a milhão mais uma vez… nadei rapidinho até a borda, subi o mais rápido que a Tequila permitiu. -Agora tenho que encontrar a saída daqui, pensei. Tinha uma cerca de um metro e pouco, de madeira, pulei, naturalmente caí de bunda do outro lado, nem olhei para cima, só imaginava o segurança chegando para ver o que estava acontecendo, vi duas escadas, a da esquerda para cima, a da direita para o lado, fui na da esquerda, trancada. Voltei, fui pela direita, encontrei uma grade de metal, com aquelas pontas em cima, calculei, vi a rua lá em cima, tinha que ser por ali… Subi na grade, passei a perna por cima, tentando usar o que me restava de consciência para passar por ela… quando noto que uma ponta estava perigosamente ameaçando a minha próxima geração. Tarde demais ela furou a bermuda mas felizmente não me atingiu, consegui liberar a bermuda, passar para o outro lado, chegar na rua.
Olho para dentro do Paradise, a Rafinha gesticula para eu voltar, eu já calculando quanto dinheiro tínhamos para pagar alguma multa pela aventura, passo pela portaria, encharcado, torcendo para ninguém notar o furo na bermuda, chego até eles e a Rafa me fala que o Rhyse também pulou. A Denise pede para ir lá ajudar ele a encontrar a saída, nem penso duas vezes… pulei mais uma vez. Na metade da queda deu para ver ele nadando para aonde eu ia cair, sem saber que eu estava despencando. Ele levou um susto, rimos bastante, os dois adrenalizados, nadamos um pouco, uns mergulhos para descontrair, na saída descubro que o portão que eu pulei estava aberto, graças a meu estado quase perdi minha capacidade reprodutiva, sem saber que era só tentar abrir o portão que eu sairia andando sem maiores dificuldades.
Todos já estavam na calçada nos esperando, na hora um taxista abre a porta, os dois encharcados, ele não se importou. Seguimos direto para o Clube de Yates, entramos no dingue e nem lembro bem como, chegamos no veleiro. Consegui escrever no diário da Denise uma mensagem para o casal, que certamente será nosso amigo para sempre, mesmo que leve muito tempo para nos reencontrarmos, já fazem parte da nossa história, e nós da deles.
Só me lembro de algumas horas depois o casal vir dizer adeus a nós dois. Falei algumas coisas em inglês que não consigo me lembrar… eles disseram Adeus!!! Eu respondi…. We love you couple!!!
Horas depois acordamos em clima de velório e ressaca, só os 3 (eu, a Rafa e o Cameron) a bordo e começamos a nos preparar para seguir até Puerto Escondido, nossa próxima parada. A partir de agora seremos apenas nós 3, mas eles estarão sempre presentes.

Manuel Alves