sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ja me falaram que a vida eh feita de fases...

Ontem, finalizamos mais uma fase a bordo do Brava.
Iniciamos com a fase do imaginar como seria... quando olhávamos nas revistas de vela as pessoas que tinham abandonado a vida na cidade e partido rumo ao horizonte azul.
Depois, já com a imaginação dominada, passamos pela fase do sonhar... sonhar como seria bom fazer o mesmo, sonhar com o barco, com os novos mundos a conhecer, com as aventuras...
Ai veio a fase de buscar... buscar o barco, buscar formas de ter alguma renda para ajudar a viabilizar o sonho... a eterna busca por aprender, conhecer, entender... a busca por conseguir ter a segurança para poder viver o sonho. Começamos a aceitar toda e qualquer oportunidade para estar velejando, consertando barcos, fazendo cursos, construímos um veleiro pequeno para ver se valia a pena,  viramos rato de marina... Atravessamos o Pacifico e o Atlântico velejando, visitamos mais de 30 países em uma curva ascendente de aprendizado que ate hoje cresce intensamente.
Vendemos tudo... apartamento, carro, compramos um terreno em um lugar que gostamos, em uma região tranquila, realizamos o sonho da Rafa como Arquiteta de projetar e construir sua própria casa. Junto com esta realização veio a segurança de uma casa, de um lugar para voltar caso não nos acostumássemos com a vida a bordo, a segurança de um aluguel, mesmo que pequeno, ajudando a pagar os custos do sonho.
E quando menos esperávamos ele apareceu. Nosso tao imaginado, sonhado, calculado, estudado e esperado Veleiro apareceu.
Entramos na fase de compra, reforma e reconhecimento. Levamos um bom meio ano nesta fase. Uma fase em que toda e qualquer economia que você tenha feito vai ser consumida... em que vais dormir sonhando com um equipamento novo e acordar para encarar um dia inteiro de pó de fibra penetrando em seus poros e te fazendo sofrer intensamente por uma semana... em que vais começar a aprender e entender o funcionamento de um ser vivo (barco), complexo, intenso e sem manual de instruções.
Barco encontrado, comprado, pago, reformado, atualizado, pintado, polido e encerado, começa uma nova fase... a fase de Viver o Sonho. Nesta fase tudo eh alegria... a cada velejada mais feliz você fica com a qualidade do seu Veleiro, a cada ancoragem tudo eh novidade, o sentimento de realização só não eh maior que o sentimento de liberdade, o pouco dinheiro que sobrou de uma vida de economia são gastos com prazer em happy hours no fim de tarde, em alguma baia milimetricamente posicionada para o melhor visual do fim de tarde do Caribe entre dezenas de pessoas que são como você... talvez em uma outra fase...
Ai vem a fase em que você se torna o que aqui fora eh conhecido como Cruiser, ou ai no Brasil como Cruzeirista.
Você não eh mais uma pessoa comum, afinal você mora em um Veleiro, mas você também não eh um velejador, porque teu veleiro tem tanta coisa para sua vida diária que inviabiliza a participação em regatas, e da uma preguiça danada organizar tudo para poder ir a outra ancoragem, por mais próxima que esta se localize. Você passa a ser mais um viajante de deslocamento lento, ou um Mestre em manutenção geral em lugares paradisiacos.
Como tudo na vida que eh feito regularmente, varias vezes, você acaba se deparando com um dos principais motivos que te fizeram fugir da vida comum... a Rotina.
Neste momento, em que viajar, velejar, ancorar, conhecer e fazer tudo de novo, vira rotina, eh o momento que muitos abandonam o sonho. Os que, como nos, não desistem, entram em uma nova fase.
Esta nova fase foi a que encerramos ontem.
Eh a fase em que aceitamos que este estilo de vida eh o que mais nos agrada e que esta eh a vida que queremos viver.
Eh o momento em que aceita as maravilhas e os desconfortos, as calmarias e as tormentas, a alegria de fazer um novo amigo em algum canto do mundo e a saudade do amigo que a tempo não vê.
Eh quando você, seus amigos, sua família, todos aceitam que esta eh sua vida.
Toda aquele deslumbramento, surpresa, descobrimento já não são tao intensos, e a vida se parece mais com a que deixamos para tras.
Temos que correr atras de dinheiro, temos que ter saúde,  temos que ter um grupo social para fazer parte, temos que ter ferias, tudo igual a todos os outros seres humanos.
E, posso te garantir, estamos conseguindo.
O dinheiro necessário para viver vem da visita de amigos, da realização de charter,  do serviço a outros barcos, dos projetos arquitetônicos da Rafinha. Levar uma vida simples, não ficar em marinas, não depender de restaurantes diariamente, fazer todas as manutenções de seu barco ajudam bastante a diminuir a necessidade de dinheiro.
O Brava já não eh mais um desconhecido... já conhecemos cada detalhe, cada fio, cada barulho desta maravilhosa maquina de sonhos. O amamos como um filho, confiamos nele como em um pai.
A 10 meses atras fechamos a torneira. Precisávamos ter a certeza de que poderíamos viver no Brava, com o Brava e pelo Brava. Nao voltaríamos mais ao Brasil para eu fazer a temporada de verão com a escola de Surf Primeiras Ondas e a Rafa trabalhar como Arquiteta. Nao mais iriamos trabalhar embarcados em outros barcos, não mais faríamos delivery. Nossa empresa , empreendimento, negocio, business passou a ser o Brava.
Aceitamos o desafio, entramos de cabeça, nos doamos 100% ao projeto e Gracas a Deus, estamos conseguindo!!!
Ontem acabou uma temporada de visitas, na segunda feira reinicia mais uma temporada de manutenção. Mais uma fase.
Mas desta vez, com a certeza de que conseguiremos!!!
Obrigado Meu Deus!!!
Manuel Alves e Rafaela Brogni
Duplaventura