quinta-feira, 27 de maio de 2010

Travessia entre Bermuda e Açores


Olá pessoal
Chegamos ao Arquipélago dos Açores ao amanhecer do dia 25, e vou tentar passar para vocês como foi a nossa travessia entre Bermuda e Faial (1980 Milhas Náuticas -NM).
Ainda quando estávamos em Cuba recebemos um email do Boss informando que estaria nos Açores no dia 22 de maio. Tínhamos aproximadamente 2 meses para fazer 3 mil milhas náuticas, além da manutenção do veleiro. Pode parecer bastante tempo, mas quando estamos viajando pelo mar, temos que contar com as "janelas" de tempo favoráveis para cada etapa.
Após aquela travessia dura que tivemos em Cuba, o problema sério com a mangueira do sistema refrigeração do motor no meio da noite entre Cuba e a Flórida, uma pizza de Lagosta em Bahamas e quase 20 dias "no seco" fazendo milagres nos mais variados sistema do barco em Fort Lauderdale, nosso tempo estava passando mais rápido do que imaginávamos.
Na primeira oportunidade de tempo bom zarpamos de Fort Lauderdale para Sand Cay, no norte do banco das Bahamas, um lugar lindo mas que não tivemos tempo para curtir, acabamos ficando apenas dois dias por lá, aproveitando a "janela de tempo bom" continuamos até Bermuda. O diário desta travessia esta em um post da Rafa mais antigo.
Em Bermuda também não tivemos muito tempo para "vadiar", tivemos 3 dias de trabalho, brincando de Laboratório de Química para fazer a limpeza da membrana do Watermaker, além do polimento do casco, e mais inúmeros projetos menores que consomem um tempo inacreditável e um dia livre muito bem aproveitado em Horse Shoe Bay que compensou quase todo o tempo gasto trabalhando até então.
Como vocês já devem ter notado, estávamos ficando meio paranóicos com o "Tempo" (do calendário). É incrível como a dedicação ao veleiro é constante. Em 2008, quando fizemos a travessia entre o Panamá e Marquesas, a Rafa ficou abismada como os velejadores passam pouco tempo curtindo os lugares que chegam e muito tempo tentando matar a "To Do List" (lista de projetos no barco) e este ano realmente estávamos sentindo na pele a verdade desta equação. Desde que chegamos a Cuba eu entrei no mar apenas duas vezes, uma em Cuba para limpar o fundo do barco (curti o mergulho, mas era mais um projeto para o barco) e uma em Bahamas, aonde eu e a Rafa finalmente tiramos um tempo para nós e relaxamos na praia por uma tarde. Mais um dia livre em Horse Shoe Bay em Bermuda, mais 3 dias em Orlando, totalizamos menos de cinco dias livres em quase 60 a bordo. Ainda bem que amamos velejar!!!
Mais uma vez chegou uma "janela de tempo" favorável e era hora de zarpar. Saímos ao amanhecer de uma quita feira (dia 13) com bom vento noroeste, favorável, sol e pouca onda.
Os velejadores possuem uma Bíblia, se chama World Cruizing Guide (WCG), escrito por Jimmy Cornell, que expõe as melhores rotas e épocas para as mais variadas travessia pelo mundo. O WCG mostrava que estávamos na época correta para a travessia, e que o mais correto é sair de Bermuda, seguir rumo Norte-Nordeste até 38 a 40 graus Norte, depois seguir rumo leste aproveitando a carona da Gulf Stream (corrente favorável com até dois nós) e depois, mais perto dos Açores, voltar ao 38 graus em que se localiza o Arquipélago. Com isto ganha-se corrente e vento favorável e escapa da alta pressão dos Açores, que cria enormes zonas sem vento que obrigam os velejadores a usarem o "vento de porão", ligarem o motor e acabar com o clima bacana da velejada.
A janela era favorável para os dois primeiros dias, mas quando saímos sabíamos que não poderíamos seguir a rota proposta pelo WCG porque já havia uma frente poderosa saindo da costa norte dos EUA, com ventos de mais de 40 nós e ondas entre 6 e 9 metros, o que nos obrigou a manter a rota quase leste puro, não podendo passar dos 33 graus norte, porque o limite da frente estava nos 34. Os primeiros 3 ou 4 dias mantivemos esta rota, sempre com vento rodando pela popa, entre noroeste e sudoeste, quando muito chegava no sul criando um través de primeira e o barco andando super bem. Por um longo período velejamos por um mar mais "sujo", com muita alga de cor amarelada, era o famoso "Mar de Sargaço", mas depois foi só o azul inexplicável que só as águas com mais de 1000 metros de profundidade conseguem produzir.
Como quando saímos tínhamos a previsão de 5 dias, e a frente tinha se formado a 2 dias, imaginávamos que depois do terceiro dia poderíamos começar a ganhar altura, seguindo um rumo mais direto e fugir da alta dos Açores, mas os Grib Files (arquivos de previsão de tempo que recebemos através do telefone via satélite) que chegaram mostraram que outra frente, mais forte que a primeira vinha bombando ainda mais ao sul, o que não só nos impediu de subir, mas nos fez descer um pouco mais e nos brindou com ventos moderados e ondas de bom tamanho, bem espaçadas e que realmente aumentaram nossa saudade do Surf.
Finalmente, na metade da distância, a frente dissipou e colocamos a proa reta para o Arquipélago, lentamente ganhando grau após grau rumo norte, ajudados pelo vento mais virado para o quadrate sul, vendo a distância diminuir e o frio aumentar.
A rotina a bordo depois de uma semana velejando direto vai ficando cada vez mais preguiçosa, o tempo passava lentamente entre 5 refeições diárias, leituras de livros e revistas, música e filmes. A vida marinha nos primeiros dias não marcou muita presença, mas na segunda metade da viagem veio com força total. Todos os dias e noites éramos escoltados por bandos de Golfinhos, pássaros e incontáveis "Caravelas Portuguesas", aquelas água-vivas com uma bolsa flutuante azul ou roxa que nos apavoram durante o verão com seu tentáculos longos procurando algum peixe.
A umas 800 NM de Faial, nosso destino, o vento começou a morrer. Começou diminuindo de intensidade, antes sempre entre os 15 e 20 nós, depois descendo para 10 a 15, virando para empopada. Armamos o Pau de Spinakker e velejamos um dia em "Asa de Pombo", depois ele rodou para sul novamente e mais uma noite de boa velejada.
No outro dia ele morreu de vez. Mesmo com todo o nosso esforço para ganhar altura e fugir da alta pressão, acabamos em um buraco de vento, o mar achatou, ficou com aspecto de azeite e o motor entrou em ação. Eventualmente entrava algum ventinho e aproveitávmos para dar um descanço para a máquina e curtíamos o prazer das velas cheias mais uma vez.
O tempo seguia lentamente, milha após milha nos apoximávamos do destino, revezando entre ventos fracos e motoradas longas, seguíamos nosso caminho. A vida ficou ainda mais tranquila, mar de azeite, azul, liso, lindo, nenhum barco ou navio nas proximidades por dias. Dava até para esquecer que estávamos em um barco.
No meio de uma tarde assim, tranquila, motor ligado, só a vela mestra içada para manter o equilíbrio do barco, a Rafa dormindo no sofá do salão, eu e o Cameron lendo livros no cockpit e nos revezando em rápidas checagens a cada 10 ou 15 minutos, paz total... de repente sentimos um "clank", a sensação o barco ter passado por um quebra-molas e um barulho de pancada não muito fora do padrão. O Cameron olha para mim e pergunta... What was that? eu espondo... A Wave... mas aí lembro que as ondas vinham de norte-sul e o barco balançou de sul-norte, levantei e fui conferir pensando que podia ser algum lixo de maior tamanho, ele seguiu junto para a popa. Quando cheguei lá, olhei direto para a popa, pois imaginava ver alguma coisa atrás do veleiro... nada... quando eu olho para o lado, uma enorma mancha negra emerge do lado do barco, a distância de "um cuspe" uma enorme baleia brota do nada!!! Olho para o Cameron, ele olhando para a Popa como eu tinha acabado de fazer e falo... Whaleeeeeee!!!!!! Ela sobe lentamente, o tempo passa mais lentamente ainda, ela vira o corpo, olho direto no olho dela, naquela bola preta, ela olhando para mim tipo "quequetutáfazendoaqui?", vira de lado como fazendo corpo mole, mergulha, e eu com as pernas moles do susto. A Rafinha tinha acabado de chegar, não a vê, eu e o Cameron chocados. Ela não entendeu nada, só entende quando a baleia volta à superfície, desta vez mais longe (uns 15 metros) e dá o clássico mergulho colocando seu rabo para cima. Depois de debater o assunto chegamos à conclusão de que não atropelamos a Baleia, ela é que veio nos conferir, pois ela seguia o mesmo rumo e velocidade do veleiro. Talvez por termos a tinta do fundo de cor branca ela possa ter imaginado ter visto a barriga de outra Baleia quando olhou do fundo do mar. Só não entendemos como ela fez contato mesmo quando tínhamos o motor ligado, o que normalmente espanta a vida marinha. Estávamos a 580NM dos Açores.
A menos de 3 dias das Ilhas encontramos um Catamarã em rumo contrário, faziam dias que estávamos sozinhos no mar, fizemos contato, eles vinham da Horta no Faial, iam a Bermuda, exata rota contrária de nós, nos informaram que o tempo nas ilhas finalmente tinha melhorado depois de mais de 20 dias de chuva. Boas notícias!!!
Os últimos dois dias caímos em outro "buraco de vento" e o motor voltou a funcionar. O vento diminuiu tanto que uma noite criou um cenário mágico. Dava para ver a Lua e as estrelas refletidas na superfície do mar. Alucinante!!!
Na última noite, a menos de 100 milhas da Horta, o movimento de barcos aumentou bastante, passamos bem perto de uma luz Strobo indicando um equipamento de pesca, vimos luzes de outros veleiros. Após a janta assistimos o filme Pearl Harbour, não por ser inédito para nós, mas por ser o mais longo a bordo, ajudou a matar a ansiedade em 3 horas. A Rafa foi a primeira a ver as luzes da Ilha do Faial, meia noite e meia. Revezamos os turnos, um mais aguniado que o outro para chegar e quando o sol nasceu estávamos os 3 de prontidão para ver as Ilhas.
As 8:20 da manhã atracamos o barco ao lado de outros 2 veleiros no cais da Aduana da Marina da Horta. Tínhamos chego!!! 12 dias... 12 lindos dias!!!
A Rafa e o Cameron realizadíssimos, eu mais ainda.
A 12 anos atrás estive aqui, na mesma Marina, mas cheguei por avião atrás das raízes do povo que colonizou a Ilha de Santa Catarina e de um Surf Spot lendário o mitológico.
Me apaixonei por estas ilhas e prometi um dia voltar...
A 12 anos atrás nasceu um sonho que mudou a minha vida completamente. Que me levou a assumir caminhos não aceitos como "normais" por muitos, um sonho pessoal, um caminho extremamente longo e mais pessoal ainda que me fez lutar a cada dia para realizar...
Sonhei que um dia chegaria nesta Marina, de veleiro e com a Mulher da minha Vida!!!
12 anos... 12 dias...

Por quanto Tempo você está disposto a lutar pelo seu sonho???
Sim, vale a pena sonhar!!!

Obrigado Meu Deus!!!
Manuel Alves

Tempo vale mais que Dinheiro - Cap. Cameron


And now, time for another installment of Captain Cam's random rambles- there is nothing like 2 weeks alone at sea to give a guy time to think. Love you all:

The best advice I ever got:
I had 2000 dollars saved, and was trying to choose between a surf trip to Bali, and a piece of land on the Big Island (of Hawaii) for which the seller had agreed to take my money as down payment. I called my friend, a gypsy traveler who had made it big in real estate. “If I buy this land now, I will be way ahead of the game when I am older” I reasoned…
“How old are you?” He asked. “20” I said.
“Man…. There are a million ways to make money in the world. GO SURFING”.
Since then, Ive had many amazing years of travel, and living outside the social norm. I have come to the conclusion that far too much emphasis is put on money in today’s world. That the real treasures of life are mostly things that come don’t cost a thing: Freedom, adventures and the TIME to experience them.
Time has much more value than money. Strange then that we trade our time for money, is it not? The error is in the belief that more money will buy one even greater time… But it rarely does. I put it to you that the more you have, the more you are slave to what you have. Just ask my millionaire boss.
Sure, money can buy you a gold plated ipod, a new Beamer, a country club membership, but these are just distractions, aren’t they?
Comfort is not the same as happiness.
We should realize that all dreams have a common thread- time: When I just get enough time, I’m going to… After just one more thousand…
But as Sterling Hayden Once observed: “ To be truly rewarding, a voyage, like a life, must be based on a firm foundation of financial unrest… Which shall it be, bankruptcy of purse, or bankruptcy of spirit?”
As a direct result of my refusing to buy into the normal 9-5 work system, I have had the kind of experiences most people would give their life’s fortune for.
Many people have wondered how I could ‘afford’ to travel all these years- (he must be doing something illegal)… But in response, I ask, “how can you afford to stay at home”? What with the rent, the car payment, the cable T.V. the bag of weed and a twelve pack each week… Heck, Im SAVING money by being a rolling stone, I don’t know how the rest of you do it. Im serious.
But, differences in lifestyle aside, the real gem here is the perspective shift. The focus should never be on the money, but rather the things money could achieve. Once you see clearly that money is just a means to an end, but not the end itself, a whole world of possibility opens up, and a great weight is lifted: Money is only an obstacle, a waypoint, on the path to the real goal. It’s a distraction. The shortest distance between two points is a straight line, and the surest path to your dreams is always a direct one.
I learned early that to make a journey happen, all I really had to do was buy the ticket. Even if I didn’t have the rest of the money, there is magic in decision. Just buy the ticket, and all else will fall into place. I was so sure of this basic principle- a universal secret- that I bought my first boat on credit cards.
Disclaimer: You must have a plan, and not just blind faith. You can’t just run off around the world with no plan to pay it back. But a loose outline and a bit of self discipline is usually all it takes.
I could have taken the long road: Saving money each year until I thought I had enough. But Id still be there, Im quite sure of it. Instead, a bit of work in exotic places like Taiwan, and Fiji, kept me floating until Australia, where I sold the boat and paid my debts.
5 years in the blue Pacific, and not a penny to show for it, but memories to rival the greatest treasure.
So it is with great trepidation that I now find myself invested in a house, and holding down a “real” job. At nearly 40, perhaps I can be forgiven a bit of nesting instinct- the desire to have an even better quality of life. Few would question a man’s God given right to own his own home, right? Even the freest spirits would admit a need for balance- one cannot live on rice and beans forever. Moreover, no one would pity me for my job, sailing around the world and getting paid.
But that is exactly what I am questioning. Do we really need these things? With 6 billion people in the world, are we ALL entitled to our second home in the Hamptons? How many cars is enough? How much money is enough? Isn’t the dream job, still just a job?+
What are our highest intentions? Is it the dream job, or the dream itself?
For me the answer is still time. Freedom and time. Sure, some of life’s greatest rewards come from commitment- relationships, family, even your job… But let us be very clear about the fine balance we must keep.
“In everyday life you will find that your boss, your lover, or your government often try to manipulate you. They propose a “game” in the form of a choice in which one of the alternatives appears definitely preferable. Having chosen this alternative, you are faced with a new game, and very soon you find that your reasonable choices have brought you to something you never wanted: you are trapped. To avoid this, remember that acting a bit erratically may be the best strategy. What you lose by making sub-optimal choices you make up for by keeping greater freedom.” - David Ruelle, Chance and Chaos
Again- you cannot run off around the world with no plan to pay it back. But a little planning goes a long way. The scales are already so greatly imbalanced in ways that will trap you in the system, one must give extra spontaneity to tipping them back. From the mainstream, these kinds of actions- quitting your job, buying a boat, going surfing- may seem erratic, even irresponsible. But from where I am standing, they seem like some of the sanest options available.
I was recently in Cuba, one of the poorest countries, yet with some of the happiest people. Ever notice that often the less people have, the happier they are? Why is that? Perhaps it is true that “Freedom is just another word for ‘nothing left to lose”. Sadly, every Cuban aspires to move to Miami, the asphalt land of the “free”. Meanwhile, most freeway numb people in Miami only dream to feel as alive as a Cuban…
There is a high spiritual price to pay for financial gain, pretty much across the board, yet we all rush headlong into it regardless. We are convinced that we will be the exception. “Not me, Ill be different. Come on lucky number 7!”…
In Cuba I met a French sailor, an anarchist, who believes that the “lack of system is the only viable system”… That accepting pre determined roles and bench marks sets any system up for eventual crash. That making ones own definition of “success” is the only real success , and that once enough people live outside the system, the system will dissolve, peacefully and without fanfare.
And he is right. Don’t hurt anybody, but be yourself. The rest will take care of itself.
Ive got a house and a job, for now, but I will not be a slave to these transient things. This dream job is still just a job, after all. There are million ways to make money in the world. Money is not a good bench-mark for success.
Life is grand and far from over. Im going surfing.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Dupla em Bermuda



Para muitos velejadores Bermuda é um “pit stop” para quem atravessa o oceano Atlântico em direção a Europa. Para outros, é um lugar que envolve o misterioso Triângulo das Bermudas. Para mim, há cinco meses atrás, antes de planejar esta viagem, eu não sabia ao certo da existência desta ilha, imaginava um lugar desabitado, e quando comecei a pesquisar sobre ela, descobri que poderia ser uma grande surpresa. E foi!
Para nossa surpresa é considerado um dos países mais rico per capta, sua renda vem basicamente dos grandes negócios bancários, e também do turismo, recebem cerca de um navio de cruzeiro por dia. Saint Georges, a cidade mais antiga de Bermuda é considerada patrimônio da humanidade!
As cidades parecem cenários de filmes, com teatros a céu aberto que contam como a ilha foi descoberta e colonizada. Caminhando nas ruas, você sente que voltou no tempo, a arquitetura é muito original e a beleza natural realmente surpreende. A população é extremamente amigável, todos querem saber sua história. Estava caminhando pela ruas de Saint Georges e um senhor foi logo perguntando de onde eu vinha, contei para ele todo nosso trajeto e nossa vida a bordo...”estamos vindo desde de Cuba, passamos por Flórida, Bahamas e aqui estamos em Bermuda”, eu disse. Ele falou...”então você fez todo o Triângulo”!!!
Antes de eu começar a velejar, eu já tinha ouvido falar no tal misterioso Triângulo das Bermudas, via documentários na TV e claro dava um certo medo, pensava comigo mesmo...”nunca irei passar por esses lugares”. Depois que comecei a velejar, caí na real que eu poderia mesmo algum dia passar por ele, a partir de então comecei a ignorá-lo, não queria saber detalhes sobre ele. Foi quando, início deste ano, me deparei com a realidade: irei fazer todo o Triângulo! O que antes era uma remota possibilidade, virou cena real.
Então comecei a ler depoimentos na internet de pessoas que cruzaram o Triângulo, comecei a acreditar que essa história não tinha fundamentos científicos, eram fatos que ocorrem em toda parte do mundo, mas que estavam sendo exaltados pelo simples fato de ter ocorrido no Triângulo, e que a tempos atrás a tecnologia de equipamentos de segurança não eram tão eficazes como os de hoje. Respeito os que acreditam, pois eles devem ter suas razões...mas esta foi a forma de eu enfrentar o medo, preferi acreditar que não aconteceria nada conosco. Ainda bem que foram boas as surpresas!!!
Bermuda realmente além de ter sido um perfeito “pit stop”, pois o Cameron e o Mané puderam concertar definitivamente o Water Maker e também polir o casco do veleiro, foi uma experiência muito boa, um lugar que encantou aos olhos.
Obs: Moral da história: Nunca diga nunca. Hehehe.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Travessia de Fort Lauderdale a Bermuda


Nada mal!!! Sempre acima de 160NM por dia... Velejada fantástica...
Os detalhes estão no Post da Rafinha abaixo... Diário de bordo...
Próxima etapa: Bermuda a Açores, mais 1800NM para o Log Book!!!
Obrigado meu Deus!!!

domingo, 9 de maio de 2010

Diario de Bordo da travessia entre Fort Lauderdale e Bermuda

Este Diário foi escrito de uma maneira resumida para vocês entenderem um pouco como é nosso dia-dia no oceano.

02/maio/2010 – Deixamos a marina Play Boy em Fort Lauderdale às 10 h, tudo estava funcionando perfeitamente, já era hora de zarpar. Abastecemos com diesel numa marina ao lado e começamos a descer os canais que ligam a cidade com o mar. Os canais eram perfeitas avenidas, onde passavam navios de containers, navios de cruzeiros, navios da marinha, lanchas de pesca, e veleiros. O sol estava brilhando, colocamos música para animar a partida e para nossa surpresa apareceram golfinhos à nossa proa, melhor assim, os golfinhos são nossa companhia no mar.
Começamos a içar vela, eu no timão e Mané e Cameron na vela grande, iniciamos nossa saída do canal e as ondas do marzão já eram grandes, vento moderado de SO.
Durante toda a tarde foi tempo para relaxar e curtir, chegando a noite o Cameron preparou uma pasta ao pesto.
Iniciei meu turno às 20:30h, vento brando, céu estralado e um navio no horizonte. Já estávamos aos arredores dos arrecifes de Bahamas, que é composta por inúmeras ilhas e entre elas bancadas rasas de areia e coral. Mantínhamos, por segurança, umas 5 milhas da grande bancada, pensei comigo o que fazia um navio ali em lugares supostamente rasos para um navio, na verdade estávamos numa esquina...é...mar também tem esquina!
Monitorando o navio no radar percebi que ele vinha na nossa rota, acordei o Mané para ele me ajudar a safarmos. Safos, fiquei monitoando o quanto de distância mantínhamos dos arrecifes, o vento era SO, e quando virou mais pra Sul, aproveitei para ganhar ângulo e tentar contornar a bancada rasa. Faltava mais 10 horas pra chegarmos em nosso destino: Walkers Cay em Bahamas.
Entreguei meu turno para o Mané às 00:30h, a condição da velejada estava perfeita e fui dormir na cama de proa.



03/maio/2010 – Acordei 7h e com o vento mais forte em torno de 20 nós, já estávamos chegando em Walkers Cay. Eu e Mané fomos cada um para uma borda do veleiro ajudar na visualização das possíveis pedras que poderiam atingir o veleiro, e procurando caminhos mais fundos em meio a bancadas rasas de areia e mar azul piscina, chegamos a uma ancoragem que mais parecia uma miragem, de tão maravilhoso que era!
Tinha uma praia a nossa frente, eu e Mane pegamos uma bóia e nadamos até ela, aproveitamos toda tarde naquele paraíso, encontramos jogado na areia um computador e apelidamos aquele lugar de “Bahamas Internet Paradise” .
Já era final de tarde, hora de voltar para o barco, durante a exploração na Ilha Perdida, tinha feito um corte na parte inferior do dedo do meu pé, pensei que nadando durante a volta, algum tubarão pudesse sentir o cheiro do meu sangue, foi engraçado...eu e Mané nadando bem rapidinho de olhos na superfície da água pra ver se nenhuma barbatana de tubarão viesse a nossa direção. Ufa! Salvos...chegamos no veleiro e o Cameron estava intretido com o Water Maker, que é um sistema de filtro que transforma a água salgada do mar em água potável. O Water Maker não estava funcionando 100% e ficamos um pouco preocupados, pois para uma travessia longa, seria um componente importante para o nosso reabastecimento de água.
Fizemos uma janta Mexicana, limpei meu machucado, e fomos dormir.




04/maio/2010 – Acordamos naquele paraíso, tomamos café no deck e depois de curtir um pouco o visual, o Mané e o Cameron foram trabalhar no Water Maker, depois de 2 horas já estava funcionando, mas ainda precisara checá-lo melhor em Bermudas. Vimos a previsão de tempo e teria uma janela de bom tempo para navegarmos até Bermuda, nos levaria uns 5 dias velejando, então decidimos zarpar hoje mesmo, fiz uma limpeza na cozinha, organizamos tudo para nossa partida. Deixamos Bahamas às 14:00h, novamente a saída dos arrecifes foi um pouco tensa, a cada segundo sempre de olho no ecobatímetro, que nos dá a profundidade, e aos poucos íamos deixando mais um paraíso, o sol estava intenso, calor e vento de través em torno de 14 NÓS, mar liso e proa em direção a Bermuda, 57º no piloto automático.
Durante toda a tarde foi tranqüila, lemos livros, dormimos e batemos papo. Iniciei meu turno como sempre 20:30h, noite estrelada, vento constante SO e navio a meu bombordo em direção a nossa proa, orçei afim de safar o navio, o vento aumentou para 17 NÓS e andávamos a 9 NÓS com a corrente a nosso favor.
Entreguei meu turno para o Mané às 00:30h e fui dormir na proa.


05/maio/2010 – Estávamos dormindo tranquilamente eu Mané, quando Cameron, que estava eu seu turno, nos chamou às 7h. Um Mahi Mahi (o nosso Dourado no brasil) tinha fisgado a isca do molinete, corremos até o deck pra garantir o rango. O peixe era incrivelmente grande e lindo, a pescaria foi um sucesso, agora teríamos que comê-lo primeiramente antes de jogar novamente isca na água. Sushi, ou muqueca ou simplesmente amanteigado com alcaparras seria nosso cardápio por alguns dias!!!
Vento brando e constante, completamos as primeiras 24 horas velejando percorrendo uma distância de 175 milhas, nossa distância entre Bahamas e Bermuda eram 780 milhas.
Tomei banho e fui para o deck pegar sol, comendo uma maça bem gelada, nestas horas eu percebia que velejar torna as pequenas coisas em grandes prazeres, como por exemplo curtir o sol no deck comendo uma maçã bem gelada.
Para o almoço Mané preparou uma muqueca de Mahi Mahi deliciosa, dormi um pouco depois de comer e acordei quando o vento diminuiu para 8 NÓS. Ligamos o motor e ficamos no deck conversando, fazendo e planos futuros, vimos um golfinho pulando na nossa proa!
O mar estava tranquilo, resolvemos assistir um filme, o Batman, as caixas do home theather bombavam com os efeitos sonoros do filme, o barco todo vibrava, cheguei até a pensar que a barulheira poderia acordar os peixes, ou os misteriosos animais marinhos que habitam as profundezas do oceano...como a nossa mente pode ser tão lúcida e tão criativa ao mesmo tempo!
Iniciei meu turno às 21h, o vento era constante e a noite estava absurdamente escura, sem estrelas, não se via um palmo a frente , nem navios apareceram, nem aviões. De repente o vento virou drasticamente, as velas começaram a bater, corri para o leme e o Mané e o Cameron que ouviram as velas batendo, já estavam de pé ao meu lado. Não tinha sido o vento que mudara e sim o barco que rodopiou, sem nenhuma explicação, a não ser a explicação de que o piloto automático ficara maluco durante um segundo. Com tudo sobre controle, continuei meu turno e as estrelas apareceram...ufa, agora eu tinha companhia.



06/maio/2010 – Acordei 7h, vento calmo, mar liso e céu com um pouco de nuvens. Preparei banana frita com torradas e café com leite, o Mané acordou em seguida, acho que foi com o cheiro da banana fritando!
Ficamos conversando e curtindo a velejada, lemos livros (Vendedor de Sonhos, muito bom este livro).
O Cameron acordou e começamos a conversar, o assunto era o alto índice de natalidade no mundo, tudo começou porque ele estava lendo um livro de defendia a idéia que os seres humanos tem que parar de ter filhos e resolveu nos ler um trecho, então começou a debater a questão, o debate foi polêmico, cada um com suas idéias, terminamos a conversa com um Mahi Mahi no forno e rindo bastante.
A condição de conforto dentro do barco estava perfeita. Vento SO em torno de 15 NÓS e mar liso. Assistimos uns 3 filmes e iniciei meu turno que foi bem tranqüilo e com a visita de 3 navios que passaram bem longe da nossa rota.

07/maio/2010 – Acordamos juntos eu e Mané às 7h, ele já estava se acostumando com o horário do seu turno, que era o mais complicado pois era o horário do meio, suas horas de sono eram picadas. O meu era o melhor, podia dormir durante 7 horas direto.
O vento diminuiu de intensidade mas o sol continuava brilhando, recebemos a visita de um passarinho que parecia estar exausto de tanto voar pelo mar, pousou no nosso deck e ficou horas descansando. Fui no deck da proa curtir o vento e vi uma tartaruga.
O almoço foi macarronada, o vento continuava fraco, então decidimos colocar a vela balão pra tentar ganhar mais velocidade. A idéia era chegar domingo de manhã, pois a previsão dizia que uma frente fria do norte estava chegando. Colocamos a balão que é uma terceira opção de vela usada somente quando o vento vem da popa e que ajuda o barco a andar mais rápido. O vento tinha mudado de direção, mais ainda continuava fraco. Não adiantou muito então voltamos a ligar o motor.
Velejar também é um exercício de paciência e de “aquietação” da mente. Não fazer nada é um processo físico e mental que treina o nosso autocontrole. Uma prática difícil nos atuais mundos modernos. Estávamos aqui também treinando a nossa paciência e o nosso autocontrole!
Iniciei meu turno que foi sem dúvida o mais tranqüilo, a noite estava clara e o mar um azeite.

08/maio/2010 – Sábado! Acordamos já na contagem regressiva, a previsão era chegar domingo pela manhã. Fiz uma feijoada daquelas, e passamos praticamente a tarde lendo livros e estudando a entrada na baía de Bermuda.
Iniciei meu turno, o vento tinha aumentado um pouco, desligamos o motor e botamos vela tentando ganhar velocidade.
O Mané ficou comigo em meu turno, ele estava sem sono. Terminei meu turno e não consegui mais dormir, acho que era a ansiedade de chegar, fiquei na cama rolando esperando o dia clarear.


09/maio de 2010 - Eram 5h da manhã acordei fui direto para o deck e vi a ilha. Uau ! Como é bom chegar!...deu tudo certo, estamos aqui, em uma ilha muito distante no meio do oceano Atlântico.
Nos comunicamos por rádio com a alfândega que nos orientou como entrar na ilha. Fomos seguindo em direção a um canal que entrava no meio da cidade em uma grande baía cheia de outros veleiros ancorados, em torno da baía, casinhas coloridas com telhados brancos, um charme...água azul clarinha, um mundo totalmente novo para nós.
Fizemos a entrada no país, ancoramos em um local seguro e fomos conhecer Bermuda. Uma ilha de colonização inglesa, com arquitetura típica, bem estruturada e cheia de turistas. A cidade nos encantava a cada ruela, a cada esquina...




domingo, 2 de maio de 2010

Finalmente chegou a hora de Zarpar!!!


Ola Pessoal

Estaremos zarpando daqui a algumas horas em direcao a Walkers Cay no norte das Bahamas (180NM), aonde deveremos passar uns 2 dias descansando para seguirmos para Bermuda (800NM) e posteriormente ao Arquipelago dos Acores (1700NM) e Gibraltar (1100NM).
Nossa estadia em Fort Lauderdale acabou sendo bem mais longa que imaginavamos, por conta de sucessivos problemas, principalmente no sistema de refrigeracao do barco.
Ontem finalizamos os ultimos detalhes e estamos 100% prontos para iniciar a travessia do Oceano Atlantico.
A previsao do tempo esta favoravel para nosso deslocamento durante toda esta semana, estamos tambem monitorando a localizacao exata da Corrente do Golfo para ganharmos um "empurraozinho" a mais. Estamos super abastecidos de comida, o moral esta alto, o barco limpo... Chegou a hora!!!
Estaremos mandando a nossa posicao diariamente atraves do Spot, sempre na hora em que o sol toca o mar no fim de tarde, para que possam acompanhar nosso andamento, pois estaremos sem acesso a Internet. Estamos tendo alguma dificuldade com o mapa do Spot no nosso Blog, mas deveremos (leia-se Gustavo do www.surf4ever.com.br) encontrar a solucao em breve.
Um grande abraco a todos e muito obrigado pelo apoio moral e torcida pelo sucesso de nossa travessia.

Manuel e Rafaela