No dia 01 de setembro completamos um ano a bordo do nosso veleiro, o Brava.
Nesta data, no ano passado saimos pela primeira vez da Sympson Lagoon, a lagoa de Sint Maarten, com rumo a Antigua e demais ilhas do Caribe, tentando fugir da area de ocorrencia de Furacoes no Caribe.
Nossa vida a bordo comecou bem antes... talvez tenha comecado na metade de janeiro, quando achamos o Brava a venda pela internet, ou talvez no fim de marco, quando eu assinei o contrato de compra e venda, ou ainda na metade de abril, quando terminamos de pagar o Brava e comecamos a morar a bordo. O Veleiro se tornou oficialmente Brava no dia 09 der agosto de 2011, quando ganhou seu registro em St. Maartin e tornou-se legalmente o Brava.
Mas, para nos, a data acaba sendo mesmo dia 01 de setembro, quando literalmente levantamos a ancora e comecamos nossas viagens.
Um ano, nove paises, 2.500 milhas nauticas velejadas, 350 horas de motor, inumeros novos amigos e incontavies aprendizados.
Um ano aprendendo a viver a bordo, a conhecer os sistemas, a entender o Brava, a aceita-lo e a ser aceito por ele.
Hoje, podemos dizer que estamos realmente vivendo o sonho e vivendo do sonho.
Para quem ainda nao teve a oportunidade ou a curiosidade de dar uma passeada aqui pelo Blog e conhecer um pouco do que aconteceu neste ano, aqui vai uma breve retrospectiva.
Saimos de St. Martin, eu, a Rafa e o Dani, amigo e parceiro de velejadas ai de Floripa, que tambem comprou seu veleiro em St. Maartin (o Mema), rumo a Antigua. Velejada muito agradavel, ja deu para sentir como o Brava gosta de velejar. Chegamos em Antigua, deu para fazer uns mergulhos em um naufragio, comprar duas correias para o alternador e seguir em frente. O Dani voltou a St. Maartin. A partir de Antigua seria so nos 3... eu, a Rafa e o Brava. Sem pensar muito seguimos rumo a Guadalupe. Acabamos nao parando em Guadalupe, seguindo ate Dominica. Nosso destino inicial seria as Ilhas de Les Saints, mas acabamos aproveitando as boas condicoes e continuamos mais 20 NM ao sul, ate Dominica. Por mais que a vontade de parar e curitr as Ilhas fosse enorme, nao tinhamos esta possibilidade, estavamos no auge da temporada de furacoes e tinhamos que aproveitar ao maximo as janelas de tempo favoravel para fugir da area de ocorrencia deste pesadelo. Em Dominica paramos com a ideia de passar uns 2 dias, descansar, conhecer um pouco a Ilha e conferir a localizacao de uma Tempestade Tropical que se aproximava do Caribe. A ultima previsao que tinhamos mostrava uma rota bem mais ao norte de nossa posicao atual, mas quando abrimos a internet, uma surpresa bem desagradavel nos esperava... A Tempestade Tropical Maria iria passar exatamente em cima de nos. Alugamos uma poita, desci as duas ancoras do Brava, amarrei a popa em mais outra poita e alugamos uma casinha de frente para o mar para esperar a coisa ruim passar vendo tudo de camarote. Ainda enquanto estavamos nos ultimos preparativos a bordo, a frente da coisa ruim chegou, com ventos acima dos 45 nos. Felizmente Maria passou um pouco mais ao norte, exatamente sobre Les Saints (Deus protege os abobados) e os ventos foram amenos em Dominica, o mais impressionante foi a quantidade de chuva que presenciamos. Tinhamos que continuar...Martinica era nosso novo destino. Acabamos parando apenas para dormir, ja havia outra Tempestade Tropical a caminho e tinhamos que seguir ao sul, eu so estaria mais tranquilo quando chegassemos em St. Lucia ou St. Vincent. Mais uma velejada com bastante vento variavel e chegamos em St. Lucia. La deu para pararmos um pouco, descansarmos como tem que ser e conhecer a Ilha. Aproveitamos para dar uma geral no Brava, acertar os detalhes pendentes que so foi possivel conhecer velejando. Nossa proxima travessia seria a mais longa ate entao... cerca de 700 milhas nauticas entre St. Lucia e Curacao... foi uma semana de sonho, em que realmente nos sentimos em um sonho... foram anos sonhando, aprendendo, se dedicando de corpo e alma para estarmos ali vivendo aqueles dias especiais.
Levamos 6 dias na travessia, 6 longos e maravilhosos dias. Se por um lado nao tinhamos mais a pressao dos Furacoes, eu tinha a enorme pressao de estar testando plenamente todas as reformas que tinhamos feito no Brava desde que o compramos. A Rafa esteve presente em todas as etapas, sempre ajudando efetivamente e me apoiando em minhas decisoes em todas as etapas da reforma, mas se algo desse errado, se tivessemos alguma falha estrutural, mecanica, etc, eu me sentiria culpado e seria o responsavel pelo nosso problema.
Passamos meu aniversario de 34 anos a 200 milhas de Curacao, eu nao posso imaginar um lugar e companias mais especiais para uma data asssim... estava com a mulher que eu amo, no barco que virou nossa casa e parceiro, no meio do mar, realizando um sonho de anos... Obrigado Meu Deus!!!
Demos o bordo pelo sul de Bonaire, deu vontade de parar, mas tinhamos que seguir ate Curacao, aonde iriamos receber a Daiane e o Gabriel, nossos primeiros visitantes, para entao retornarmos a Bonaire e mergulhar em suas aguas transparentes. A 4 milhas de Curacao, levamos nosso primeiro susto de verdade a bordo do Brava, do nada senti que o barco estava se comportando de forma estranha e quando fui conferir o leme, vi que nao tinha resposta... o Brava estava sem governo... Rapidamente pegamos o leme de emergencia, a Rafa ficou timoneando e eu consegui encontrar e solucionar o problema em tempo recorde... incrivel como em momentos assim o tempo parece passar em camera lenta e os pensamentos fluem de forma coerente. Ficamos cerca de 2 meses em Curacao, passamos uma semana em Bonaire, recebemos meu pai e meu irmao Matheus, nor reencontramos com nosso amigo e Capitao do Morning Calm (veleiro que trabalhamos por 2 anos), o Cameron, que tambem tinha comprado seu sonhado Catamaran e de Curacao seguimos rumo a San Blas, no Panama.
A travessia entre Curacao e San Blas seria ainda mais longa que a entre St. Lucia e Curacao. Os dois primeiros dias foram de sonho, condicoes perfeitas de velejo. Os outros dois dias foram o oposto... foi a pior condicao que pegamos em mais de 20 mil milhas navegadas... foram 50 horas com ventos sempre acima dos 35 nos, chuva, raios e ondas bem grandes com mar cruzado. O incrivel eh que foi a oportunidade perfeita de conhecer todas as qualidades do Brava em uma condicao ruim como esta. Se nos estavamos apreensivos, ele estava adorando a brincadeira... manteve sempre velocidade entre 7 e 8 nos, surfando as ondas acima dos 12... coisa mais linda do mundo... se no cockpit o mundo parecia que estava desabando, dentro dele a sensacao era totalmente diferente... silencio, conforto, Paz... Ali tive a certeza absoluta de que tinhamos sido abencoados em ter sido escolhidos por um barco tao especial assim...
Depois o vento literalmente sumiu... para completar a brincadeira a caixa de cambio resolveu parar de funcionar... sem vento e sem motor, passamos uma noite totalmente a deriva, nos movendo apenas com a corrente. Como estavamos no meio do nada, baixamos as velas, ligamos as luzes do mastro e fomos dormir. Muito louca a sensacao de estar flutuando no meio do nada, em um mar de azeite, em uma noite sem lua e bastante estrelada.
Felizmente o vento voltou e conseguimos nos aproximar do nosso destino, San Blas, 365 ilhas paradisiacas localizadas entre a Colombia e o Panama. No amanhecer do setimo dia de travessia estavamos a 8 milhas de San Blas, minha alegria nao era pouca, porque sabia que para navegar entre as ilhas e seus incontaveis recifes de corais sem o motor, seria bom chegar bem cedo para aproveitar o sol do meio dia para achar o caminho entre os corais e ancorar em seguranca. Quando estavamos a 5 milhas aparece do nada uma nuvem preta, daquelas de foto que impressionam e a unica solucao foi colocar a proa para alto mar. A chuva desabou, com bastante vento e acabamos conseguindo entrar em San Blas so no fim do dia, com o dingue amarrado na lateral do Brava e seu motor nos ajudando a nos movimentar em mais uma tarde quase sem vento.
San Blas foi alucinante. La reencontramos o Cameron, comemos as primeiras lagostas do Panama, mergulhamos, descansamos e nos preparamos para seguir. Nosso destino era Bocas del Toro, cerca de 230 milhas a oeste. Programamos uma parada em Ilha Grande, 40 milhas de San Blas para la esperarmos uma janela de tempo favoravel para velejar a Bocas, ja que sabia que seria uma velejada contra a corrente.
Levamos quase 3 dias para fazer as 40 milhas, normalmente levaria 8 horas. Foi decepcionante acordar e descobrir que estavamos no mesmo lugar que acordamos ontem, velejavamos lentamente durante o dia, e a noite, o vento morria e a corrente nos levava de volta. Mais uma licao aprendida... Paciencia nunca eh demais.
Chegamos em Isla Grande, reencontramos o Cameron que saiu um dia depois de nos de San Blas e chegou um dia antes am Isla Grande e esperamos uma previsao favoravel para seguir em frente. A previsao nunca veio, mudamos de ancoragem para uma bem proxima, em Puerto Lindo e aprendemos mais uma licao, talvez a mais importante ate entao.
Nesta ancoragem, que nunca tinhamos ouvido falar, encontramos um lugar paradisiaco... excelentes pontos de mergulho, ondas perfeitas sem ninguem surfando, povo local simples e amigavel, e uma comunidade de velejadores extremamente receptiva. A licao: As vezes a falta de planos pode ser o melhor plano!!!
Dezembro chegou e nao tinha como seguir a Bocas sem boa previsao de vento, nao tinhamos tempo suficiente para consertar a caixa de cambio sem gastar um rio de dinheiro. Solucao... Colocar o Brava em muma poita na Panamarina e voltar ao Brasil para a temporada de verao.
Retornamos ao Brava em marco, acabei consertando eu mesmo a caixa de cambio, salvando uma enorme quantidade de dinheiro, e oficializamos Puerto Lindo como nossa "casa" no Panama. Mas nao estamos em um veleiro para ficarmos parados em um so lugar.
Em maio ajudamos o Cameron a atravessar o Canal do Panama com seu Catamara, ele seguiu rumo as Marquesas e Polinesia Francesa, pela mesma rota que fizemos em 2008, e nos, em junho, seguimos a Bocas del Toro.
La recebemos minha amiga de infancia, a Andy e a Ro, depois meu primo Eduardo e o casal Jane e Celio, meus cumpadres Pri e Ricardinho e meu querido aluno da Escola de Surf Primeiras Ondas Pietro e seu amigo Octavio.
La tambem encontramos outros velejadores brasileiros, nosso amigo File, Fernando Passow do Veleiro Free Spirit, o Fabiano, do veleiro Nemo.
Bocas foi muito bacana, pois alem de receber nossos amigos e familiares, fazer novos amigos, tambem deu para mergulhar um monte, fazer muita pesca submarina, conhecer inumeras novas ancoragens, surfar altas ondas e comer lagosta ate dizer chega.
De Bocas, voltamos para Puerto Lindo, mais uma vez eu e a Rafa e o Brava... ela seguiu para o Brasil para o casamento do irmao dela e eu fiquei aqui trabalhando no Brava.
Um ano bem vivido, com certeza... o primeiro de muitos, se Deus quiser!!!
Obrigado a todos que tem nos acompanhado em nossas aventuras.
Abracao
Mane e Rafa
S.V Brava
Duplaventura
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