Acordamos ainda meio tontos, Denyse e Ryse já tinham ido embora, agora seriam nós três, uma tripulação mais reduzida, mas ainda a mais divertida da América Central!!
Fizemos primeiramente uma lista de coisas a serem feitas para que nossa viagem pudesse continuar, como supermercado, abastecimento de água e diesel, arrumações no barco, lavanderia e internet. Depois da lista ser executada, aproveitamos o último banho de piscina na marina Iate Clube de Acapulco, planejávamos zarpar no dia seguinte, rumo a Puerto Escondido!!!
Deixamos Acapulco anciosos pela chegada em Puerto, dava pra sentir a ansiedade do Mané, era um sonho antigo, surfar uma das melhores ondas do México, senão a melhor.
Ancoramos em Puerto já estava anoitecendo numa baía cheia de barquinhos de pesca, realmente lindo, tivemos sorte da baía estar calma, possibilitando nossa ancoragem segura.
Fomos dormir cedo, pois o dia seguinte prometia muito surf!
Toc tc toc, era o Cameron batendo na porta de nosso quarto...Hey gyus, let’s go surf!
O sol ainda não tinha nascido totalmente, só me lembro de vestir o biquíni, colocar uma roupa e preparar a mochila de tralhas, tudo muito rápido engolimos qualquer coisa, prepararam as pranchas e fomos os três para o dingue. A idéia era eu deixa-los próximo ao point do surf com o dingue, para que eles fossem remando até as ondas.
A ondulação estava grande, para mim estava gigante, parecia que elas iriam quebrar na gente, eram verdadeiros morros de água. Ai meu Santinho!...a sensação era de eu estar dentro de um filme de surf, num daqueles que eles assistem mil e trocentas vezes!!
O Cameron que já havia surfado em Puerto e pela experiência dele, achava que estava muito grande, mas como não víamos as ondas de frente, ficávamos só imaginando.
Entrou na água primeiro o Cameron, depois o Mané...eu não tirava os olhos do Mané e também das ondas que vinham...a cena era linda, sol nascendo a cidade acordando e surfistas já na água, de repente uma série entra, vejo que o Mané pega uma onda, mas demora pra voltar....daí vemos que ele está lá na areia da praia com dois pedaços de prancha na mão, menos mal...foi a prancha que quebrou, não ele.
Na mesma hora fomos ao encontro dele, deixando o dingue na praia, na mesma baía que estava o veleiro, quando o vejo, aquele sorriso no rosto...penso eu: é...ele quebrou a prancha em Puerto Escondido!!!
Depois ele conta pra vocês direitinho como foi a tal onda, numa daquelas descrições fantásticas que ele faz muito bem.
Agora estávamos em terra, aproveitamos para conhecer o pueblo, lindo...uma vila de pescadores com vários restaurantes, e na praia das ondas choupanas na beira da areia...
Eu e Mané pedimos um café da manhã numa das choupanas, ficamos de camarote olhando o Cameron que alugou uma prancha maior para continuar o surf, agora podíamos ver o mar de frente, realmente eu nunca tinha visto aquelas ondas ao vivo e a cores, somente em revistas.
Finalizamos o dia muito bem, dando voltinhas no pueblo, usamos internet e mais uma prancha quebrada, a do Cameron que ele havia alugado!
Saímos de Puerto Escondido felizes, agora iríamos zarpar para a nossa última cidade no México: Huatulco.
Ficamos em Huatulco uns cinco dias numa marina bem tranqüila, esta não tinha tanta estrutura das demais, mas tinha o suficiente para ficarmos muito bem, desta vez ficamos no trapiche, nos possibilitando de ter energia elétrica...então foi aquela mordomia, ar condicionado, filminhos na TV e bolos de banana no forno, até um pão saiu!
Huatulco fica próxima de uma das praias mais famosas pelo surf: Barra de La Cruz, e é claro pegamos um táxi e fomos passar o dia lá. Sorte que o Mané tinha planejado de trazer duas pranchas então tudo o que ele não surfou em Puerto, ele surfou em Barra de La Cruz, era uma onda atrás da outra, uma melhor que a outra, ficou horas na água e eu horas na praia às vezes em cima de uma pedra para ter o melhor ângulo para as fotos.
Comemos um X peixe no único restaurante que tinha na praia, uma delícia, não sei se era fome mas este X peixe estava tudo de bom.
O restante de nossos dias em Huatulco se resumiu na preparação dos documentos para a saída do país e na preparação do barco, já que íamos fazer uma travessia longa, cinco dias velejando sem parada, direto para El Salvador, passando pelo temido golfo de Tehuantepec e pela costa da Guatemala.
Tudo pronto! Barco em ordem e previsão do tempo vista e revista mil e quinhentas vezes, zarpamos para El Salvador!
Passamos pelo golfo de Tehuantepec tranquilamente, como dizia a previsão do tempo: vento fraco e constante, dividimos os turnos e eu fiquei com o primeiro horário. Meus olhos se revezavam, um pouco no medidor da intensidade de vento, pois qualquer mudança eu tinha que chamar o capitão, um pouco no horizonte, cuidando de possíveis navios e um pouco nas nuvens que sismavam em carregar relâmpagos. Não dava tempo de se sentir sozinha, tinha bastante tarefa e quando menos esperava apareciam os golfinhos.
Na costa da Guatemala as inúmeras linhas de pesca apareciam constantemente para quebrar nossa rotina, assim que passávamos por cima delas, tínhamos que parar o barco e o Cameron tinha que mergulhar para desenrolar ela do hélice, aconteceu isto uma vez durante a noite, foi adrenalizante, dava pra ver que ele estava com medo, imagina mergulhar a noite embaixo do barco com máscara, lanterna e faca! Eu dei um susto nele quando joguei uma corda para ele se segurar, a corda caiu em cima dele, e ele deu um grito...eu ria sem parar de nervosa, a intenção foi boa, mas eu não precisava ter jogado em cima dele né, podia ser do lado. Depois ríamos todos juntos...ele contou este fato no texto que escreveu para o blog.
Além deste acontecimento, outros foram marcantes nestes cinco dias velejando, em uma tarde escaldante de 40 graus decidimos parar o veleiro e tomar um banho de mar...quer dizer...de alto mar...uma delícia, a cor azul era um azul diferente...lindo, talvez por causa da profundidade, uns 200 metros, outro foi as milhões de tartarugas que víamos a toda hora, incrível!
É preciso um certo auto controle quando se está muito tempo no mar, estar no mar acima de tudo é um auto conhecimento, eu tinha que manter minha mente com pensamentos positivos, tinha que ser útil para tripulação, afinal somos um time, tinha que estar atenta para aprender, tinha que evitar erros durante o meu turno, pois naquele momento o barco estava sob minha responsabilidade, tinha que entender tudo o que estava se passando, tinha que ajudar a manter um relacionamento saudável entre a tripulação, tinha que manter a calma se acontecesse algo assustador, tinha que passar protetor solar toda hora e claro meus cremes hidratantes e se alimentar bem.
Chegamos em El Salvador por um canal de mangue que se liga ao mar, a marina estava dentro do mangue e para chegarmos até ela tínhamos que ser guiados por uma panga (barco pequeno) que nos mostraria o caminho, pois o rio era cheio de canais de mangue, como se fosse um labirinto, muito diferente e maravilhoso, parecia Pantanal ou Amazônia, algo assim...eu nem conseguia imaginar como era El Salvador, mas começava bem...bem diferente de tudo o que já havíamos passado.
Ancoramos no canal estreito do mangue na marina Barrillas, a vegetação em volta era densa, dava para ouvir passarinhos e com certeza iríamos ver jacarés, fizemos a entrada no país e depois é claro seguimos para um merecedor banho de piscina na marina, ganhamos de cortesia doses de margueritas...o clima começou a voltar ser de festa!
Fizemos amizade com outros velejadores que estavam a semanas e meses ali, no dia seguinte pegamos uma van e fomos conhecer a cidade. Daí sim eu pude conhecer um pouco de El Salvador um país pobre ao mesmo tempo rico na exuberâncias de frutas, verduras e especiarias, as barraquinhas nas ruas enfileiradas uma do lado da outra, as vezes uma por cima da outra vendiam de tudo, como carangueijo vivo, peixes secos, carnes a céu aberto, temperos, frutas, verduras, camarão, pintos tingidos...de tudo o que se pode imaginar, eu tentava me manter atenta as informações visuais mas de vez em quando eu tinha que cuidar para não meter o pé em poças de água suja, as senhoras usavam um vestido típico do país, um lenço em volta do rosto, a maioria parecia ter mais de cinqüenta anos, elas gritavam coisas que eu não entendia, eu estava novamente dentro de uma cena de filme.
Foi chocante, depois eu Mané conversando, chegamos a conclusão que este povo era feliz, pois eles não conheciam o luxo, aquela era a vida real, talvez eles não se sentissem menos ricos.
Aproveitamos para dormir mais uma noite tranqüila na marina, não precisávamos fazer turno, a programação era de zarpar para Nicarágua no dia seguinte, e assim foi.
by Rafaela Brogni
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