terça-feira, 30 de junho de 2009

Histórias do Panamá



















Acordamos eram seis horas da manhã, mais um lugar para se despedir...Golfito, última cidade da Costa Rica. O sol nascia deixando o verde ainda mais verde...o azul ainda mais azul...os morros ao redor pareciam criar um cenário...um cenário único que me deixava confiante para seguir em frente.
Tínhamos sessenta e oito milhas para chegar na próxima ancoragem, em uma ilha no norte do Panamá, a carta náutica mostrava que havia uma boa ancoragem em Isla Parida, então colocamos a proa rumo à ela, tínhamos que chegar antes do anoitecer.
O dia passava tranquilamente, ficamos o tempo todo no deck pegando sol e conversando...circundamos a Ponta Burrica, limite entre os dois países, fisgamos mais um Skip Jack, que acabamos devolvendo ao mar e seguíamos paralelamente à linha da terra, sentindo que a ondulação cada vez mais aumentava e isso deixava o Mané estigado para encontrar onda em Morro Negrito, um lugar bastante frequentado por surfistas do mundo todo.
Avistamos Isla Parida eram seis e meia da tarde, o sol ia se pôr às sete horas...nossos corpos pareciam tentar empurrar o barco, para que ele chegasse a tempo. E sem querer querendo fisgamos mais um peixe, tivemos que aliviar a velocidade do barco para tirar a linha da água e resgatar a nossa janta, não era uma barracuda, nem um dourado, era um Yelow Tuna, que veio em boa hora, pois realmente estávamos com fome.
O sol se pôs e ainda não havíamos entrado na baía, começou a chover e o vento que vinha de proa atrapalhava nossa visão. O Mané ficou na proa para orientar o Cameron que estava no leme e não enxergava nada, e eu fiquei meia nau para fazer a conexão da comunicação entre os dois, apenas conseguindo ver a terra quando algum raio caía e trazia alguma luz em seu clarão. Foi uma gritaria...vira à boreste, vira à bombordo...qual a profundidade...vira tantos graus...olha a pedra...pega a lanterna...e por aí foi...quando conseguimos ancorar seguros e todos molhados da chuva, fui até à proa para ajudar o Mané e ele estava tremendo de frio.
---- Corre pro banho quente !
Jantamos e dormimos abraçados, quando acordamos vimos pela janelinha do quarto que estávamos num paraíso, coloquei biquini e não contei duas vezes, dei um mergulho no mar...tinha uma casa na beira da praia e uma ilha bem pequena em frente, um visual fantástico, a cor da água era um azul que refletia o verde das montanhas, parecia uma ilha deserta e para a nossa surpresa ela não estava deserta...estavam lá outros veleiros, alguns que já conhecíamos como o Kamaya, uma família que estava há 1 ano e meio fazendo a costa do Pacífico, seus filhos se chamam, ele Kay e ela Maya.
Levantamos âncora e seguimos para uma outra ilha, Islas Secas que na verdade era um conjunto de ilhas, entramos no meio delas e eram tantos os caminhos que não sabíamos para onde ir... foi quando avistamos uma praia de areia branca e dois barcos ancorados em frente.
---- Uau !
Foi essa a palavra que saiu da boca, era lindo aquele lugar !
Quando chegamos mais perto vimos que um dos veleiros que estavam ancorados era o Jamming, de um casal que conhecemos na Costa Rica, que nos havia salvo de um encalhe perto de Puerto Jimenez, ao nos aconselhar o caminho correto.
Decidimos passar a noite ali mesmo, ancoramos pegamos o dingue e descemos na praia, o lugar era mais lindo vendo de perto, a água era simplesmente cristalina.
Na manhã seguinte decidimos pegar o dingue e contornar a ilha procurando pontos para mergulho, o dia estava ensolarado, pegamos máscara, snorkel e fomos nos aventurar.
Em torno da ilha não havia praia, somente rochedos altos de cor preta, rocha de origem vulcânica e a água era um azul profundo, diferente daquela aguinha clarinha na beira da praia. O Cameron mergulhou primeiro, enquanto eu e Mané ficamos cuidando do dingue e observando aqueles rochedos com várias cavernas, realmente uma sensação que eu nunca tinha tido...toda aquela natureza...grandiosa e exuberante, incrível!
De repente o Cameron subiu e disse que tinha cinco arraias nadando juntas...falou para mergulharmos rápido...confesso que fiquei um pouco tensa, pensei comigo, com certeza tinha tubarão ali!
Foi um visual fantástico, não vi as arraias mas vi peixes grandes e coloridos, e o que mais me deixou adrenalizada foi ver a continuação dos rochedos no fundo do mar e a água entrando em suas saliências formando bolhas gigantes de água.
Fomos os três mergulhando e usando o dingue como apoio, quando nos demos conta já tínhamos nadado longe, decidimos entrar no dingue e aproveitar mais um pouquinho da praia antes de zarparmos para mais uma ilha.
Almoçamos pasta de atum com torradas e zarpamos para Isla Silva, agora a intenção era encontrar ondas surfáveis, não encontramos...a maré não estava pra onda! Passamos bem pertinho da ilha, só olhando e curtindo o visual, já era fim de tarde e tínhamos que encontrar uma boa baía para passar a noite.
Na carta náutica mostrava um lugar seguro para ancoragem em Morro Negrito, era uma boca de rio que se transformava em uma baía enorme, mais parecia uma lagoa...um estuário...um paraíso! Não existia casa, pueblo...nada...somente pescadores, coqueiros e nós.
Depois da janta, eu e Mané ficamos no deck conversando e observando alguma coisa que aparecia de repente na superfície da água...aparecia e sumia bem rápido, cada um deu seu palpite:
---- Eu acho que é crocodilo!
---- Eu também acho que é crocodilo!
Bom...escutamos muitas pessoas dizerem que existia crocodilo no Panamá, crocodilo de água salgada! Eu não queria acreditar, mas estava vendo! Vendo alguma coisa que parecia olhinhos...de crocodilo.
---- Pera aí! Estou vendo uma tartaruga !
Hehehehe...não sabíamos se era crocodilo ou tartaruga...decidimos não entrar na água para tirar a dúvida.
Hoje acordamos mais tarde, decidimos zarpar para Baía Honda, já fazia cinco dias que estávamos velejando desde de nossa saída de Costa Rica, de repente Baía Honda teria algum pueblo, com internet e mercado para comprar algumas frutas e verduras.
Entramos numa baía em uma ilha em frente à Baia Honda que tinha um barco grande da guarda costeira, ficamos maravilhados com a beleza do lugar...sem dúvida era o lugar mais bonito que já estive, água azul envolto por montanhas com mata nativa...somente o som dos pássaros ecoando...eu queria fiar ali por umas semanas.
Tivemos que sair logo para encontrar um lugar para dormir, entramos em Baía Honda era final de tarde, tinha um pueblo, mas não tinha internet. Este sem dúvida foi o lugar mais isolado do mundo que encontramos, a comunidade vivia em cabanas na beira da lagoa, pescando e cultivando, quase auto suficientes, se não fosse a existência de uma pequena lojinha que vendia alimentos e que era abastecida somente quando vinha um barco da cidade mais próxima uma vez por semana. Quando ancoramos, veio até nós uma família da comunidade local nos oferecer frutas, verduras, peixes e lagosta...era só encomendar que eles iriam pescar e colher na mesma hora, e o mais interessante é que a forma de pagamento poderia ser na base de troca, eles precisavam de roupas, pilhas, calçados...ou qualquer coisa que tínhamos para oferecer. Encomendamos frutas e verduras...o Mane foi até o pueblo com a família pra tentar achar coca cola...achou!!! E ficou super amigo deles...até foi apresentado para o “prefeito” e ao delegado do pueblo. Na manhã seguinte estávamos abastecidos de frutas e prontos para zarpar para Santa Catalina, point do surf !!
Velejamos o dia todo, Mané estava ansioso, sabia que iria encontrar boas ondas, igual ano passado. Ancoramos em frente a uma ilha, pegamos o dingue e fomos achar internet para mandar emails e checar previsão do tempo para a passagem de Punta Mala, uma ponta entre Santa Catalina e Cidade do Panamá, conhecida pelo seu mal tempo e suas fortes correntes, que poderiam atrasar a nossa chegada.
O pueblo de Santa Catalina continuava o mesmo, estivemos aqui há exatamente um ano atrás, achamos um cyber café novo...com pessoas e surfistas do mundo todo. Mané já se informou do surf e viu também na internet que entraria uma ondulação dali a um dia...o sorriso foi na orelha.
Passamos três dias em Santa Catalina...a rotina era surf de manhã e surf final de tarde...eu levava os dois de dingue até o point e voltava para o barco...contava duas horas e meia e voltava para busca-los. Foi bom...assim eu ficava no barco sozinha escrevendo para o blog, editando filmes, escutando música...comendo brigadeiro, fazendo a unha, pegando sol, ou seja...super a vontade ! hehehehe !
No último dia de nossa estadia em Santa Catalina chegam nossos amigos... Kamaya e Jamming, foi ótimo reencontra-los, assim como temos nossos vizinhos de porta, agora tínhamos vizinhos de barco.
Zarpamos para Ilha Cebaco, dormimos uma noite e logo cedo seguimos para a nossa última perna, um pouco mais longa, 160 milhas em um dia e meio, de Cebaco para a Cidade do Panamá, passando por Punta Mala. Pegamos correntes favoráveis, mar agitado com vento forte e conseguimos chegar na data planejada em Panamá City, era fim de uma etapa, a sensação era de conquista...sentimento de felicidade...e palavras de agradecimento!

2 comentários:

Flavinha disse...

Eeee! Estavam fazendo falta!

Rafinhaaa, que delíciaaa esse texto!!!
Ai, não me canso de elogiar... É bom demais tirar umas férias "na cabeça" só de ler as aventuras de vcs! :) Sério, faz bem pra alma!

Tô aqui suspirando... :)

Hahaha, na dúvida entre crocodilo e tartaruga melhor não arriscar mesmo neh?

Imagina se o Mané não ia ser amigo do prefeito? Hehehe! Tô pra ver pessoa mais universalmente gente-boa que o Mané!!! :) Já falei pra ele que essa é uma qualidade incrível!

Ai guria, coisa boa ter teus momentos de mini-férias no veleiro!!! Sempre bom ter espaço pra colocar nosso lado "mulherzinha" pra fora! Unhas feitas mesmo em alto mar hahaha! :)

Pena que tá rolando tanta coisa aqui que mal tenho tempo de comentar com calma... Se a gente se encontrar pelo messenger conversamos com mais calma! :)

Muitas saudades!!!
E que sempre tenham "o lugar mais lindo que já viram" pela frente!

Beijão enorme!!!

Anônimo disse...

Manezera e Rafinha, tudo OK!
Hoje lá pelo meio dia, tomando um chopp no Floripa Shopping fechamos a venda do nosso querido veleiro MEMA, que tanta felicidade trouxe pra nos...
Agora a cabeça e o sangue tão a 3 mil por hora, fazendo conta, vendo papeladas e correndo atras pra desatar os cabos que nos prendem a esse ritimo louco da vida em cidade grande...
Galera por aqui tamo orgulhosos de vocês, pois sonhamos juntos a cada milha percorrida!

Aquele abraço e tudo de bom!

Daniel