Após todas aquelas emoções, na saída do Hostel do Don, voltamos à Marina Las Hadas, desta vez sem ter que criar planos, sem ter que inventar histórias nem brincar de Missão Impossível. Já no meio da descida do morro que foi construído este maravilhoso empreendimento hoteleiro que é Las Hadas conseguimos ver nosso barco… lindo, imponente, ancorado na baía em frente a Marina, bem aonde eu fui procurá-lo naquela noite de aventura.
Descemos até a Marina e como ainda era cedo, resolvi ir até ele remando com a minha prancha para ver se a turma estava dormindo. Remada tranquila, água quente, mar azeite, aquele lindo barco como destino…. Cheguei perto… dei uma parada para analisar… não sabia se ria, se mergulhava, se remava em volta…. Era inacreditável que realmente era o Veleiro que será a nossa casa pelos próximos 3 meses…. Continuei a remada, cheguei até ele, dei uma volta dando umas batidinhas com os nós dos dedos no seu casco, para tentar acordar alguém que pudesse estar dormindo a bordo… ninguém respondeu… tinha uma escada pendurada borda a fora, com alguma dificuldade pela altura da borda livre, coloquei a prancha a bordo e depois consegui subir pela escada.
Dei uma volta pelo convés do barco tentando achar alguma gaiúta aberta, todas fechadas, bati na porta, ninguém respondeu… pensei… ok, eles devem ter dado uma saída, vou voltar e ficar com a Rafinha na Marina.
Voltei remando, encontrei a Rafinha sobre o molhe, meio braba comigo por ter subido a bordo, mas acho que era mais frustração por eles mais uma vez não estarem ali….nós dois estávamos nos remoendo por dentro na expectativa de finalmente embarcar, mesmo não falando sobre isto, estava claro para nós dois que não queríamos mais esperar.
Enquanto a Rafinha ficou num agradável gramado, fui até a área da piscina do Hotel para ver se eles estavam por ali, não os encontrei, mas achei uma piscina de cinema para relaxarmos e esperarmos eles.
Acho que foi a piscina mais estilo Magnata que já vi em toda a minha vida… ilha artificial com coqueiro e tudo, ponte, vários bares internos, cercada por um belíssimo hotel estilo Mediterrâneo… Mais uma vez nossa espera não seria das mais dolorosas… chamei a Rafinha que ficou de queixo caído e não exitou…. Foi logo entrando e curtindo aquela infra toda, que dificilmente conseguiríamos aproveitar se dependesse do nosso dinheiro.
Depois resolvemos achar um local com boa conexão de Internet, para fazermos o Upload do filme N2, pois sabíamos que iria levar um bom tempo para esta transferência, acabamos encontrando um agradável restaurante decorado com belas pinturas da Frida Kalo, ficamos por cerca de uma hora e meia na Internet, depois a fome bateu, pedimos um Macarrão a Carbonara e um a Bolonhesa, que eram as opções mais baratas, e, quando finalmente a comida foi servida, logo após minha terceira garfada, eles chegaram. Lei de Murphy, provavelmente se não tivéssemos com os pratos na nossa frente, eles levariam mais algumas horas para chegar.
Vi o Táxi passando, e com a boca cheia falei para a Rafinha... Eles chegaram!!! Saí tentando engolir rapidinho e fui encontrá-los.
Foi muito bom reencontrar o Cameron, uma pessoa que nos ajudou muito no ano passado, nas Marquesas, quando havíamos acabado de chegar após atravessar o Pacífico em uma viagem de 36 dias, 28 dias sem ver terra, sem falar o Francês, que é a lingua falada na Polinésia Francesa. Ele nos ajudou a achar uma casa, nos recebeu como um bom amigo, e lhe ajudei a construir um Leme para o pequeno Veleiro Lorabel, de 26 pés, que sua irmã havia cruzado o Pacífico desde o México, e que ele estava tentando resgatar após o pequeno mas valente Lorabel ter ido dar à praia em uma tempestade que atingiu a Baía de Taohay, quebrando seu leme. Ele precisava de apoio para arrumar o barco para poder levá-lo até o Tahiti, e nós precisávamos de apoio para conseguir passar uma semana até termos o vôo para o Tahiti, e depois para o Brasil. Assim nasceu uma amizade instantânea, como fruto da necessidade de ambos, mas que acabou indo bem além disto.
Ele é o Skipper, o Capitão responsável por este belo Veleiro que será nossa casa durante os próximos meses, e que pretendemos levar até o Panamá, obrigados por uma feliz cláusula no contrato do seguro, que diz que o Veleiro deve estar ao Sul de 9 graus Norte, ou seja, ao Sul da área de ocorrência de furacões, antes do dia 1* de junho, data em que oficialmente inicia a época dos furacões nesta região.
Ele estava acompanhado por um casal de amigos, que a 7 anos não se reencontravam, o Rhize,e a Denise, ele Newzelandês, ela da Eslovênia, recém casados, curtindo sua Lua de Mel a bordo. Eles três, mais eu e a Rafinha seremos a tripulação do Calm Day entre Mazanillo e Acapulco, aonde deveremos chegar até o dia 21, local em que o casal retorna à Nova Zelândia, e nós 3 seguiremos rumo Sul, até o Panamá, cruzando por águas da Guatemala, Honduras, El Salvador, Costa Rica, Nicarágua e Panamá.
Tanto o Cameron, quanto o Rhize são surfistas experientes, o que garante que teremos boas sessões de Surf pela frente.
Depois no reencontro ajudei a carregar as compras que eles haviam feito, Cerveja, Tequila e algumas frutas e verduras. Eles foram para o barco para descarregar e assim sobrar mais espaço para transportar nossas tralhas, e eu retornei ao Frida Kalo Café, para terminar meu Macarrão e reencontrar a Rafinha, que ficou comendo.
Após o almoço aproveitamos para ir até a sede da Marina Las Hadas para fazer a pesquisa solicitada pela ACATMAR, Ass. Catarinense de Marinas, depois fomos bater fotos de suas instalações, tentando fazer o melhor possível para captar todas as informações que possam ajudar Santa Catarina a ter instalações pelo menos similares a esta que encontramos por aqui.
Eles retornaram e fomos levar nossas tralhas até o Veleiro e finalmente o conhecemos por dentro, fomos apresentados ao nosso confortável camarote, estilo suíte, de extremo bom gosto, com uma cama de casal só para nós dois, armário para nossas roupas, ar condicionado independente, luz com regulagem de intensidade, banheiro com água pressurizada quente e fria e outros luxos mais que não temos nem no nosso apartamento. Sabíamos que era um Veleiro grande, confortável, mas realmente ficamos fascinados com o que encontramos.
Além da estrutura interna, o Veleiro possui todos os equipamentos fundamentais, todos os eletrônicos, todos os itens de segurança, muitos acessórios, velas novas, ou seja, tudo que iremos necessitar para fazer esta longa velejada em segurança e com muito conforto. Só para vocês terem uma idéia, levamos 1.000 litros de combustível e 2.000 litros de água, além de possuir dessalinizador, ou seja, tem autonomia para ir bem longe sem precisar de reabastecimentos.
Retornamos ao Hotel e fomos a outra piscina, menor do que aquelea que fomos pela manhã, mas com uma vista mais privilegiada, e com cerveja a um terço do preço do bar da outra.
Acabamos o dia cumprindo uma antiga tradição náutica, que prega a obrigatoriedade de ao se chegar e ao se sair de um Veleiro, a tripulação deve encher os Cornos. Não que fosse uma obrigação do Capitão, mas o Cameron realmente deu um banho na preparação de Margueritas, fazendo todo mundo curtir como velhos amigos que a longo tempo não se reencontram.
Finalmente tinha acabado uma etapa da viagem, maravilhosa sem dúvida, e outra que realmente promete, estava começando.
Agora só nos resta viver um dia de cada vez, tentando fazer com que hoje seja melhor que ontem, e assim sucessivamente.
Manuel Alves
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Há 6 anos
Um comentário:
Uau! Que despedida caprichada da primeira etapa da viagem! :) Deve ser impressionante por lá! Tiraram bastante fotos neh?
Agora, o melhor é saber que a segunda etapa promete ser ainda mais especial! Instalações maravilhosas (que confooorto!), pessoal bacana e lugares incríveis a caminho!!! Ai, tô empolgada com os próximos relatos hahaha!
Casal, vcs são demais! Têm um coração enorme e uma energia que fazem de vcs pessoas muito especiais. E tenho certeza de que cada etapa dessa aventura está sendo abençoada com muita diversão, saudade boa, saúde, risadas, ondas, amor e muita felicidade! E vai continuar assim, cada vez melhor pela frente, pq vcs fazem por merecer!
Aproveitem tudo, curtam demais, tirem bastante fotos pra gente e continuem com essas descrições maravilhosaaas!
Estamos torcendo e vibrando com cada chegada!
Abração com saudades!
Flá
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