Acabamos ficando em Rio Nexpa, desistindo da possibilidade de conhecer e surfar La Ticla e Pascuales, duas excelentes ondas e belas parais, bem no meio do nosso caminho até Manzanillo.
Os dias passaram tranquilamente, o mar subiu mais um pouco, depois mais ainda e ficou Storm, mas acho que era mais pela direção da ondulação do que por falta de qualidade da bancada. Dormimos mais duas noites na barraca, na primeira, aconteceu o episódio do Terremoto que a Rafinha contou, e ela pode contar melhor, porque presenciou a cena desde o início. Eu estava deitado de lado sobre um cobertor, na barraca, sobre a areia, e ela de bruços, por isto sentiu a aproximação antes e me acordou.
Ele veio rolando, como uma manada desenfreada, passou por baixo da barraca e foi embora para o mar.
A Rafinha estava adrenalizada, me perguntou o que era e tentei falar no tom mais tranquilo possível… Terremoto…., logo depois o Bily gritou de dentro de sua casinha…. como se não fosse nada… Earthquake!!! Acho que ela ficou mais tranquila, mas foi uma experiência bem doida com certeza.
Foi o Terremoto mais intenso que já passei, os outros 2 nos Açores, eram mais acomodações secundárias após um Terremoto que matou 21 pessoas apenas 4 dias antes de chegarmos lá, em 1998. Sorte que este não era nada mais grave e nosso único risco era um Coco cair do coqueiro que estava atrás da nossa barraca.
Aproveitei para surfar bastante, curtir com a Rafinha, que estava super a vontade, se sentindo em casa, deu para editar os filmes, ver outros, conhecer melhor os mexicanos, ir à Internet, comer bem e aproveitar este belo local que é Rio Nexpa.
Recebemos um e-mail falando que deveríamos encontrar o barco em Manzanillo dia 13, o que nos deu mais uma noite e a oportunidade de voltar à nossa Mansão, retorno muito bem vindo, pois mesmo tendo comprado em Caleta de Campos, um cobertor grosso e um colchão de piscina (rosa) para a Rafinha dormir melhor, a vida na barraca estava sendo meio cansativa, principalmente pela falta de um bom lugar para a “Siesta” após o almoço.
Segunda acordamos e era o dia de dizer adeus a este lugar e a todas as pessoas boas que encontramos por aqui. Aproveitei para dar o último Surf, peguei umas 8 ondas, me despedi com uma maiorzinha, em mais uma manhã de ondas incríveis, um metrão e meio, com séries maiores, dei uma última olhada nas linhas perfeitas que rolavam bancada a baixo, agradeci a Deus por ter me dado esta oportunidade e voltei para ajudar a Rafinha a finalizar os preparativos para voltarmos à estrada.
Acabamos conseguindo sair apenas 13:20, um pouco tarde, pois sabíamos que seriam entre 5 e 6 horas em um ônibus pinga pinga, recolhendo tudo e todos pelo caminho.
Chegamos na estrada graças a uma carona do Cheyo, que se despediu emocionado, dizendo que gostou de nós e gostaria que voltássemos. Fique tranquilo Cheyo, você, sua famíla e sua fantástica onda estarão sempre em nossas melhores recordações. Quem sabe um dia realmente voltamos???!!!
Esperamos durante quase de 3 horas, no horário mais quente do dia, a Rafinha só tinha tomado café da manhã, eu nem café tinha tomado, e, quando finalmente o ônibus chegou, o “Chofer” me falou que chegaríamos em Manzanillo depois das 9 da noite, realmente tarde, já que o sol se põe aqui às 8 e meia.
O problema seria encontrar o barco, que é azul, no meio da noite, em uma baía que eu não conhecia.
No meio do caminho paramos em Tecomã, e tentei ligar para o Cameron, no celular dele e no telefone via satélite do barco, mas não consegui contato. Fiquei bastante preocupado pois sabia que não seria legal chegar em Manzanillo, uma cidade bem maior que Balneário Camboriú a noite, ter que achar o barco sem ter feito contato, sem exatamente saber aonde esta, sem poder conhecer ninguém de outro veleiro ou lancha com um VHF para tentar achar ele via rádio, e carregando todas nossas tralhas.
Enquanto isto a Rafinha conversava com uma jovem mexicana que mora em Manzanillo tentando tirar algumas informações que pudessem nos ajudar. Tentei pensar positivo, criei um plano: Iríamos chegar lá, eu iria entrar na Marina, rodar ela toda e checar se o barco estava docado, se não estivesse eu poderia conferir de cima de seu molhe de pedras se o barco estava na baía, se o achasse iria pegar minha prancha e remar até ele, encontrar a turma, pegar o inflável e voltar para resgatar a Rafinha e as tralhas.
Durante as duas horas que se seguiram eu estava angustiado, tentando segurar o Sol com a força do pensamento e criar retas entre as intermináveis curvas. Acabou anoitecendo e eu repetindo passo a passo o meu plano como um mantra, tentando não pensar na dificuldade que teria em entrar na marina, rodar ela toda, subir nas pedras, pular na água com a minha prancha, remar entre os barcos no meio da noite e não levar um tiro, fazendo tudo acontecer como um filme de Hollywood, mas acreditava sinceramente que eu conseguiria.
Chegamos, os dois querendo comer no Mac Donald´s (primeira vez em nove anos juntos que a vontade era de ambos), talvez incentivados pela promoção do N1 por 2 dólares, pegamos um táxi e fomos informados que não existe Mac Donald´s por aqui, então pedimos uma indicação e acabamos comendo uma Torta Cubana, mais conhecido por aí como X Calabresa com Galinha, sem alface, sem tomate, com queijo dobrado e seguimos meu plano.
Chegamos na Marina de Las Hadas, que na verdade é um Mega empreendimento hoteleiro, chique no úrtimo, tipo um Costão do Santinho melhorado, mais bem localizado e com uma arquitetura mais exótica, lembrando bem aquelas casinhas nos morros de Santorini.
Chegamos próximos à primeira portaria, reforcei o Jimo Cupim e preparei a Cara de Pau, tentando chegar como se fosse normal estar ali às 10 e meia da noite, com as pranchas no meio do carro, de bermuda e chinelos, atrás de um veleiro qualquer.
-Donde quieren ir?
-A la Marina, saiu bem natural, ele olhou meio na dúvida, mandei em cima…
-Venimos a buscar el Velero Calm Day que está aí!
Ele acreditou e abriu a cancela, entramos, acabamos passando por mais duas, com policiais mais amistosos, chegando na Marina.
Fase um completa!
Deixamos as tralhas de cantinho, para evitar a possibilidade de encontrarmos algum Milionário Cleptomaníaco, fiquei comendo e a Rafinha foi tentar mais uma vez contato por telefone, não conseguiu. Depois ela ficou comendo em um lugar bacana, aonde estava discreta mas confortável e em segurança, terminando seu X-Cubano e parti para a Fase 2.
Felizmente esta Marina não tem portões com cartão magnético, como nos Açores, e entrei tranquilamente para corredor flutuante cotado por cabos de todos os diâmetros, que seguravam veleiros de até 70 pés e Iates do mesmo porte, maravilhosos, diga-se de passagem, pulando sobre uns e por baixo de outros, alguns grossos como um braço.
Parecia fácil, afinal procurava um veleiro grande, mastro grande, mas tinham vários assim.
Rodei a Marina toda entre cabos e Maravilhas flutuantes, alguns com Neon azul para iluminar seu fundo, iluminando uns peixinhos e dando um realce no cenário. Nada do Veleiro.
Consegui passar a Fase 2 sem problemas, apenas tendo que cumprimentar um guarda que passou meio apressado, felizmente sua pressa não era pela minha presença.
Segui até a área de manutenção da Marina, próximo ao seu Molhe de pedras, fiquei amarradão de finalmente estar entre barcos mais uma vez, vendo eles ali, lindos, alguns em manutenção, ao alcance das minhas mãos, mas lembrei que ainda faltava encontrar o Veleiro para poder seguir nossa viagem.
Rapidinho escolhi o caminho mais tranquilo entre as pedras, e quando me preparava para subir no meio da sombra, vi um veleiro bem grande, na sombra não conseguia ver sua cor, seu perfil era muito parecido com o que eu procurava, ele manobrava saindo da Marina, indo embora, talvez se eu gritasse eles pudessem me ouvir, lembrei do barulho do motor, lembrei do guarda apressado, e vi que não poderia fazer escândalo por ali.
Felizmente o Veleiro saiu das sombras e pude ver seu casco, era branco, não era o que eu procurava.
Voltei, peguei a Rafinha e saímos para ela poder presenciar aquela cena toda. Ela caminhou maravilhada entre aquelas Naves que dançavam lado a lado ao sabor da ondulação sem se tocarem, encontramos alguns marinheiros voltando da janta, pedimos para eles tentarem fazer contato via Rádio, tentaram 3 vezes, nenhuma resposta, foi o bastante para sabermos que eles ainda não tinham chego em Manzanillo.
Voltamos para nossas tralhas, a Rafinha foi perguntar se tinha Internet, naturalmente tinha WiiFi aberta e de alta qualidade, entramos no site do único Hostel daqui, que já tinha visto pela Internet ainda no Brasil, liguei para ver se tinha vagas, tinha.
Valeu a pena ter pensado previamente num Plano B.
Chegamos ao Hostel, acabamos em um belo quarto com 3 camas de casal, chuveiro quente e com pressão, e pudemos descansar deste longo dia.
Tínhamos cumprido nossa missão, chegamos no dia certo, no local certo, agora só nos restava esperar.
Enquanto a Rafinha tomava banho fui conferir os parceiros de Hostel, um Holandês de 17 anos fazendo trabalho voluntário, um Francês procurando qualquer trabalho que lhe de algum dinheiro, um Americano com sua namorada, um jovem Australiano de uns 50 para 60 anos, que fez toda a América do Sul em um ano e meio em sua moto, conhecendo Floripa, Ilhabela e Paraty, depois Paraguay, todo o Chile desde Ushuaya, e está subindo rumo norte, levando mais de dois anos e meio montado na sua possante moto BMW, além do Don, um Canadense figuraço de uns 50 e alguns anos, casado com a Laurie, magrinha como a Rafinha, que juntos administram este agradável lugar.
Ele me apresentou as regras da casa:
N1: Esta é a Geladeira da Cerveja
N2: Este é o livro que você tem que colocar seu nome e anotar suas cervejas.
Ouvindo as histórias de cada um, sentado em baixo de uma Palapa coberta por uma bela palha dourada, do lado da Geladeira, com um telão passando um musical exótico, estilo Cirque de Soleil, olhando para a piscina, cheguei a conclusão que não vai ser uma espera muito dolorosa.
Mas que passe rápido!
Manuel Alves
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Há 6 anos
2 comentários:
Muito bom!!!
A mesma cara que usasse com os guardas foi a cara que usasse pra dizer: "Terremoto" neh? Hahahaha! Coisa super normal!
Bom que foi tudo tranquilo!
Adorei a bóia rosa da Rafa hahaha!
Legal que deixaram boas recordações no coração de vcs e no coração de quem ficou em Rio Nextpa. O que eu mais admiro nas pessoas é a habilidade de fazer amigos e deixar saudade, mesmo com pouco tempo de convivência!
A vida é assim, bem quando ambos estão sintonizados para um Mc, não tem! :)
Ainda bem que não precisasse entrar na água durante a noite, nem levar um tiro! :) Tudo acabou muito bem, neh, nada como uma cama confortável, água quente e cerveja!!!
Ótima noite pra vcs, e que passe rápido então!!! :)
Beijão casal!
Flá
Daí galera, tudo beleza!
Daqui da ilha mandamos um a Feliz Páscoa e Good Vibration pra vocês!
Mané: terminei a parte de resina do Mema, ficou aquela coisa...nota 1000!!1heheheh! Valeu a força!
O Mema ta quase pronto pra ir pra água....agora começa a dar aquele frio na barriga,,ta chegando a dia!
A previsão é sair di 1 de maio!
Um grande abraço
Daniel, Mariana e Mateus
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